Título: Associar empresas é o caminho
Autor: Robinson Borges
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Eu, p. 2

O Brasil e a Rússia são duas economias emergentes e em crescimento, com uma geografia continental e a possibilidade de se tornarem duas das maiores potências, como se prevê em relatório do banco Goldman Sachs. No entanto, as cifras das relações comerciais bilaterais não traduzem a sinergia e as dimensões dos países. Esta é a opinião de Yevgeny Primakov, presidente da Câmara de Comércio da Federação Russa. "Temos de elevar nossa conta de comércio para US$ 6 bilhões, alterando, simultaneamente, a estrutura dos negócios", disse Primakov, um dos mais influentes nomes da política do país. Seu extenso currículo inclui os cargos de primeiro-ministro, ministro das relações exteriores e funcionário da KGB. Primakov propõe que seja adotado o modelo de joint venture, em suas mais variadas formas, entre os dois países para superar os problemas estruturais. "Nas relações comerciais, as joint ventures significam nova direção. Aqui na Câmara de Comércio acreditamos que esse é o futuro. O processo de formação pode ser diversificado", diz. Essas diferentes formas de cooperação poderiam reduzir o problema do intercâmbio atual, afetado pela falta de diversidade de produtos exportados e importados, entende Primakov. Adubos e fertilizantes são responsáveis por 75% do total exportado para o Brasil. Mas o Brasil não fica atrás, pois 45% das exportações para a Rússia são de açúcar bruto. "Para dois países que procuram uma via inovadora, isso é inadmissível", observa. Primakov também calcula que mais de 50% das trocas comerciais entre os dois países se realizam por meio de companhias de terceiros países. "Isso significa que ainda temos uma boa margem de ação." A extensão territorial da Rússia - mais de 17 milhões de km2 - a caracteriza como país continental, que tem de lidar com grandes distâncias para o transporte de energia, construção de rodovias, exploração de recursos naturais, o que a leva a desenvolver tecnologias inovadoras. Apesar de ter quase metade da extensão russa, o Brasil - com 8,5 milhões de Km2 - tem necessidades de infra-estrutura similares. Mas as convergências não cessam nestes campos. Especialista em relações internacionais, Primakov diz que a diplomacia da Rússia com o Brasil tem base sólida para o crescimento projetado para o comércio. Os elementos desses fundamentos podem ser divididos em três pilares: o peso do Brasil na economia mundial, o posicionamento convergente com a Rússia sobre a maioria dos problemas políticos internacionais e o interesse russo na diversificação de suas relações com países diferentes daqueles que dominam a economia mundial. "O Brasil está caminhando para ocupar um lugar entre as dez nações mais desenvolvidas do mundo. Tem organização institucional madura, o que não se vê com freqüência em países vizinhos da América Latina", comentou Primakov, em seu gabinete, na Câmara de Comércio. "Ao mesmo tempo, vemos que o Brasil enveredou pelo caminho do desenvolvimento inovador, possui riquezas naturais imensas e não deixa à margem o progresso para a ciência e a tecnologia." Na seara internacional, os presidentes Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva, segundo Primakov, são favoráveis ao fortalecimento do multilateralismo - em contraposição à hegemonia americana - e a uma ação mais efetiva da ONU nos problemas mundiais. Primakov reitera a posição russa de apoiar a intenção do Brasil de assumir um assento no Conselho de Segurança da ONU. Moscou e Brasília também demonstram compreensão da necessidade da luta contra o terrorismo, da não-produção de armas de destruição em massa e de acordos de cooperação de paz - em especial, no caso do Oriente Médio. "O Brasil, diferentemente de outros países, não tem uma posição ambígua em relação a estes temas", afirma o presidente da Câmara. O terceiro fundamento é estratégico para a Rússia, que está no caminho de diversificação de suas políticas com países distintos das grandes economias. "Sabemos da importância das relações com os EUA, a União Européia e a China. Mas não podemos ignorar as relações com os países em desenvolvimento rápido e com vastas perspectivas." Em sua opinião, a Rússia deve acelerar sua posição no mercado global ao entrar para a Organização Mundial do Comércio (OMC). "Em outros tempos, alguns dirigentes diziam que em poucos meses estaríamos na OMC. Não acredito nisso. Mas estamos evoluindo. A China negociou por 11 anos os termos da entrada. Nós reduzimos este prazo e estamos perto de derrubar as barreiras. Julgo que isso pode acontecer no próximo ano", afirma. Para ele, a entrada na OMC não significa que a Rússia estará preterindo os produtores nacionais. "Sabemos que a defesa do produtor nacional continuará, mas de outras formas."