Título: A energia que une Brasil e Rússia
Autor: Robinson Borges
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Eu, p. 2

A área energética desempenha importante papel na cooperação bilateral russo-brasileira. A interação nesta área se dá por várias vertentes. Nas conversações dos ministros da Energia dos dois países, Dilma Rousseff assinalou que o Brasil está interessado em utilizar a experiência russa em domínios como os da extração de hidrocarbonetos, utilização do gás comprimido e liquefeito, criação de sistemas de transporte e armazenamento de gás, e produção de turbinas movidas a gás. Vastas perspectivas, na sua opinião, tem a cooperação bilateral na construção e modernização das centrais elétricas no Brasil, responsáveis por 95% da energia elétrica produzida no país. Para nós, isto é muito importante, por que a reforma do setor de energia elétrica começou no Brasil antes do que na Rússia. Ao nosso ver, outro vetor interessante nas relações russo-brasileiras é o desenvolvimento da cooperação em áreas como as de energias não-tradicionais e desenvolvimento de novas tecnologias energéticas, tendo em conta as especificidades de cada país. Quero aqui realçar as vastas possibilidades da indústria russa na implementação de projetos conjuntos em todas as vertentes aqui indicadas. Na área de gás natural, por exemplo, o consórcio Gazprom já estabeleceu estreitos contatos com o Ministério de Minas e Energia do Brasil. Em maio, ocorreu o encontro da direção do Gazprom e da ministra Dilma Rousseff, após o qual a parte brasileira encaminhou-nos material informativo sobre a sexta rodada de licitações para exploração de jazidas e desenvolvimento da infraestrutura de distribuição de gás de algumas regiões e territórios. Em nossa opinião, é sobremaneira importante aproveitar a experiência das companhias russas na prospecção e extração de gás. Devemos também estudar a possibilidade de fornecimento de gás natural liquefeito, bem como criar um grupo misto de trabalho, constituído pelo Gazprom e pela Petrobras, com a finalidade de elaborar projetos conjuntos na indústria de gás. No domínio petrolífero, a companhia russa Zurubejnet tem manifestado interesse em participar de iniciativas para elaboração de esquemas tecnológicos de exploração de campos petrolíferos, perfuração de poços de petróleo e reparação dos existentes, elevação do rendimento dos lençóis petrolíferos e intensificação da extração. Também nos parece ser de interesse comum cooperar na construção de oleodutos, reservatórios e depósitos, bem como no fornecimento de modernos equipamentos baseados em tecnologias de ponta, de fabricação russa e de outras origens. A cooperação russo-brasileira estende-se e desenvolve-se também na área de energia elétrica. Atualmente, a empresa Sillovye Machiny participa do quadro de consórcios russo-brasileiros, na qualidade de fornecedora de equipamentos eletromecânicos (turbinas e geradores) para uma série de projetos de construção de usinas hidrelétricas no Brasil. Mais concretamente, trata-se da central de Estreito, composta por oito blocos de 136 MW cada, da usina de Murta (dois blocos de 61,5 MW cada) e da usina Santo Antonio (três blocos de 34,5 MW cada). As licitações para esses projetos estão agendadas para o quarto trimestre deste ano e as respectivas propostas estão agora em preparação. Proximamente, serão iniciados os trabalhos previstos no contrato para a construção da usina hidrelétrica Corumbá-3 composta por 2 blocos de 47,8 MW cada, no qual a Silovye Machiny é responsável pelo fornecimento de turbinas e geradores. Continua a montagem dos equipamentos da usina de Porto Góes, composta de um bloco com potência de 14 MW. Nos planos da companhia figura a participação na construção de centrais hidrelétricas em todo o mundo e no Brasil, mais concretamente, das usinas de Belo Monte (20 X 550 MW) e do conjunto hidrelétrico Rio Madeira (10 x 70 MW). Espera-se que as licitações para esses projetos sejam realizadas em 2007. Outra companhia russa, a Stroitrangaz (sigla para Construção de Sistemas de Transporte de Gás), prepara-se para participar de projetos no Brasil. É particularmente atraente o programa de construção desenvolvido pela Petrobras, que prevê para os próximos anos o lançamento de até 6 mil quilômetros de sistemas de oleodutos, estações de compressores e outras estruturas para petróleo e gás. Hoje, o Instituto Hidroproekt estuda a possibilidade de participar, juntamente com a empresa de engenharia brasileira Energ Power e as companhias de construção CR Almeida e EIT, das licitações para a construção de grandes obras hidrelétricas na Índia. Simultaneamente, estuda-se a possibilidade de participação de companhias de construção brasileiras na construção de estruturas industriais na Rússia. Os fatos e exemplos referidos permitem constatar o enorme potencial da cooperação russo-brasileira na área energética. De sua parte, o Ministério de Indústria e Energia da Federação Russa trabalha ativamente para motivar diferentes companhias russas a participar da elaboração e realização dos projetos bilaterais.