Título: Investimento recua no 2º semestre
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Brasil, p. A3

A recuperação do investimento, que foi forte no segundo trimestre deste ano, não se sustentou. Os dados da construção civil e do consumo de máquinas e equipamentos até outubro são desanimadores. A queda de quase 4% na produção de bens de capital apontada ontem pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) também deixa o cenário para o investimento mais sombrio. A pouca demanda por máquinas está sendo atendida por meio das importações, cujo volume já cresceu 30% neste ano. A taxa de investimento, chamada de formação bruta de capital fixo (FBCF) e que é calculada por meio do investimento em máquinas e na construção civil, deve encerrar o ano no máximo em 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Um crescimento bem pequeno em relação aos 19,6% alcançados no ano passado. Se chegar a esse percentual, ela terá avançado 2,1% em 2005, abaixo das previsões de analistas para a alta do PIB, entre 2,3% e 2,8%. Esse movimento será possível porque os preços dos bens de capital estão crescendo acima dos preços da economia brasileira como um todo. "A taxa de investimento físico deve cair. Se isso não ocorrer, será porque os preços correntes vão sustentar", avalia Fernando Montero, economista da Convenção Corretora. Os preços de bens de capital ficaram mais caros neste ano especialmente pela alta do preço do aço. "Em 2004, esse insumo dobrou de preço e o repasse foi ocorrendo ao longo deste ano", diz Bráulio Borges, da LCA Consultores. O que tem ajudado o consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção interna mais importações, menos as exportações) é a desaceleração do ritmo de alta das exportações desses produtos e os bons números da importação. Mesmo assim, por mais que as importações cresçam, é preciso lembrar que elas pesam 40% no consumo aparente. A produção interna responde por 60% do total de máquinas e equipamentos adquiridos por empresas brasileiras. No entanto, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), alerta que nos últimos três meses a importação de bens de capital está perdendo fôlego. Segundo dados que já descontam os efeitos sazonais, em outubro a compra de máquinas e equipamentos de outros países recuou 6,5%. Em novembro, houve estabilidade e em setembro o recuo foi de 1,7%. A construção civil é o outro elemento da taxa de investimento e está com indicadores ruins. Na média móvel trimestral terminada em outubro, o consumo de insumos típicos da construção civil subiu apenas 0,6%. A estimativa dos economistas é de que o PIB desse setor tenha alta de 1% neste ano, ante uma previsão inicial em torno de 4%. "A construção está puxando o investimento para baixo", avalia Borges. Pelos cálculos da Convenção, ate outubro a formação bruta de capital fixou avançou 1,5%, sendo que 0,4% veio do investimento em construção civil e 3,4% estão ligados ao consumo de máquinas. "Está claro que o investimento em obras não está ocorrendo", afirma Lygia Telles, da Rosenberg & Associados. No entanto, para 2006, a história deve ser outra. "Em ano eleitoral, esperamos um bom avanço nos gastos com infra-estrutura", relata.