Título: Bloqueio ao chocolate cria atrito com Argentina
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Brasil, p. A4

A Secretaria de Agricultura argentina informou ter chegado a um acordo com o governo brasileiro para permitir a liberação de chocolate que estava retido na fronteira entre os dois países. O produto brasileiro vinha sendo impedido de ingressar no país vizinho por causa de modificações em normas sanitárias que resultaram na exigência de um certificado do ministério da Agricultura do Brasil de que o leite usado na fabricação do chocolate está livre da doença conhecida como "vaca louca". Segundo uma fonte da secretaria, os últimos carregamentos com chocolate brasileiro foram liberados anteontem. Uma fonte do governo brasileiro afirmou que o assunto será tratado em uma reunião bilateral que acontecerá nos próximos dias, e até lá existe o compromisso argentino de permitir a passagem pela fronteira de chocolate brasileiro. O objetivo do encontro será adequar os produtos exportados pelo Brasil às exigências sanitárias argentinas. Segundo o Ministério da Agricultura, na semana passada, 19 caminhões brasileiros estavam barrados na fronteira por conta das novas exigências. O governo brasileiro informa que, após o surto de febre aftosa no Brasil, os argentinos também passaram a exigir que certificados que comprovassem que o leite utilizado na fabricação do chocolate é oriundo de uma região fora da área atingida pela febre aftosa. Essa briga entre Brasil e Argentina já se arrasta há dois anos. A Argentina começou a exigir o certificado de leite livre de "vaca louca" nessa época, mas depois relaxou as medidas. Bastava um certificado obtido com o produtor. Agora o país vizinho voltou a controlar o chocolate brasileiro com mais rigor, e passou a cobrar o certificado do Ministério da Agricultura, que comprova que o produto está livre de contaminação pela "vaca louca" e febre aftosa. "Essa legislação já nos causou muitos problemas, mas depois nos adequamos. Agora eles chegam com mais exigências", diz Leo Leiman, gerente geral da fábrica de chocolates Garoto. Ele diz que nenhum caminhão da companhia ficou parado na fronteira, mas que os carregamentos foram retidos nas fábricas. A Kraft Foods Brasil, dona da marca Lacta, informou por meio da assessoria de imprensa que três caminhões carregados com cerca de 12 mil caixas de produtos ficaram parados desde o início de novembro na fronteira com a Argentina. A multinacional confirma que os produtos foram liberados esta semana, após interferência do governo brasileiro. "A empresa, entretanto, mantém-se preocupada com essa questão, visto que ainda não houve uma solução definitiva para o problema", diz o comunicado da Kraft enviado ao Valor. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), a Argentina é o segundo maior mercado para os chocolates brasileiros. De janeiro a setembro, as exportações do produto para o país vizinho somaram US$ 20 milhões. Para o presidente da entidade, Getúlio Ursulino Neto, as exigências do governo argentino são "descabidas", já que não há registros de "vaca louca" no rebanho brasileiro e a febre aftosa não é transmissível ao seres humanos.