Título: Insistência de Lula indica que Hong Kong não será conclusiva
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Brasil, p. A4

Relações externas Em telefonema, presidente chama Bush para reunião

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, ontem, em conversa telefônica de cerca de meia hora com o presidente americano George Bush, a necessidade de os líderes mundiais se reunirem o mais brevemente possível - de preferência já em janeiro - para garantir avanços nas negociações comerciais, especialmente na redução dos subsídios agrícolas. O presidente brasileiro gostaria que o encontro acontecesse antes da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Hong Kong, marcada para a semana que vem, mas sabe que isso não será possível. "O presidente Bush recebeu a proposta de maneira bem positiva, inclusive quanto à data. E destacou a liderança que o Brasil tem exercido nesse processo de negociação", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Lula já havia feito a mesma proposta, na semana passada, em ligação para o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. As tentativas feitas pelo presidente brasileiro - Amorim confirmou que o governo encaminhou mensagens semelhantes aos presidentes da China, Hu Jintao, e aos primeiros-ministros da Índia, Mohamed Singh, e da África do Sul, Thabo Mbeka - reforçam as expectativas de que a reunião ministerial de Hong Kong não será conclusiva. "É uma etapa importante, mas não será o ponto final", afirmou Imitando o estilo de Lula de comparar política com futebol, o chanceler acredita que será possível "atacar pelos flancos" nas negociações previstas para Hong Kong. "Mas é muito difícil, se não impossível, concluir-se algo em Hong Kong", admitiu o chanceler brasileiro. Durante o telefonema para Bush, Lula reiterou que a agricultura continua sendo o maior empecilho para o avanço nas negociações comerciais. Elogiou o gesto feito pelos americanos de reduzir os subsídios internos, mas espera que mais possa ser feito. "Nossa flexibilidade deve ser proporcional à dos países ricos. É fundamental que a União Européia dê um passo na direção da redução dos subsídios agrícolas", cobrou Lula, de acordo com o relato feito por Amorim. Lula disse ainda que, para que as diferenças possam ser superadas, é importante, muito mais do que a habilidade nas negociações, o peso dos mandatos políticos. Por isso, na visão do presidente brasileiro, seria fundamental a reunião com a participação dos líderes mundiais. O presidente americano compartilhou das preocupações de Lula, ao admitir que as negociações estão "paradas". "Os Estados Unidos fizeram um gesto interno (redução dos subsídios agrícolas). Mas precisamos levar a União Européia a avançar, fazer com que os países deixem as posições entrincheiradas em que se encontram hoje", defendeu George Bush. O presidente brasileiro destacou ainda a importância de que as negociações comerciais beneficiem, sobretudo, os países mais pobres. De acordo com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, os dois presidentes mostraram disposição para trabalhar juntos na redução dos subsídios, no combate ao terrorismo e à pobreza. Após destacar os esforços do Brasil nesse sentido, Lula relatou a Bush os números da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD), mostrando que a desigualdade no país diminuiu em 2004. "O presidente George Bush parabenizou o presidente Lula e sugeriu que os dados fossem encaminhados para a Organização das Nações Unidas (ONU)", relatou Amorim. O presidente brasileiro aproveitou também para recordar a visita recente de Bush ao Brasil e explicitar a importância no aprofundamento da relação entre os dois países. "Bush aproveitou para agradecer o churrasco oferecido pelo presidente brasileiro na Granja do Torto", disse o chanceler brasileiro.