Título: Presidente garante que Dirceu estará em seu palanque
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Política, p. A8

Uma semana depois de o plenário da Câmara aprovar a cassação do ex-deputado José Dirceu (PT-SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista a rádios na manhã de ontem, que não havia provas para justificar a punição política ao ex-chefe da Casa Civil. E garantiu que levaria Dirceu para o seu palanque, em 2006, se for candidato. "Ele é um cidadão que perdeu o mandato de parlamentar dele, mas até agora eu não vi nenhuma acusação que possa dizer: o José Dirceu cometeu um delito. Vamos esperar, então, que se prove se houve delito", justificou o presidente. Lula não acredita que Dirceu tenha pecado, nem por omissão. O presidente acrescentou que, quando o assunto foi levantado, pensou, intimamente: "Quero saber como é que vão provar mensalão neste país. Porque a história de que tem deputado que faz votação por coisas, isso é desde que foi proclamada a República do Brasil. Entretanto, ninguém nunca provou". Lula reforçou a argumentação lembrando que o acusador de Dirceu (o ex-deputado Roberto Jefferson) foi cassado justamente porque não foi provada a existência do mensalão. E que o petista foi cassado justamente por comandar este esquema de corrupção. Se foi condescendente com Dirceu, Lula foi bem mais rigoroso em relação ao PT. Depositou a responsabilidade das denúncias envolvendo o partido nas costas do ex-tesoureiro, Delúbio Soares. "O Delúbio assumiu a responsabilidade pela parte do PT, pela parte que ele fez, assumiu a responsabilidade na CPI", recordou. Lula evitou, contudo, afirmar que Delúbio seja o traidor referido por ele em entrevistas anteriores. "Eu não citei nome de traidor. Eu disse que tinha havido traição a mim, me sentia traído, porque o PT nasceu para combater essa prática política, o PT não precisava dessa prática política", disse o presidente. Lula garantiu não ter conhecimento das relações escusas de Delúbio com o publicitário Marcos Valério. "O PT não tinha, a direção do PT não tinha porque me comunicar o que estava fazendo nas eleições", frisou. Lembrou que o caixa 2 é uma prática antiga, que só vai mudar quando ocorrem alterações na legislação eleitoral, permitindo a existência de partidos fortes e instituindo a fidelidade partidária. Mas afirmou que nada justifica a participação do PT: "Quem fez isso praticou um erro abominável contra a história do PT que, agora, vai amargar muitos anos para recuperar a sua história política, a sua credibilidade". O presidente chegou a ironizar a situação de seu partido, classificando como sui generis o fato de um partido praticar corrupção com dinheiro emprestado, pagando juros. "O PT está numa encalacrada, porque está devendo muito nos bancos e eu não sei como é que vai resolver esse problema". Lula descartou, contudo, qualquer "descolamento" de sua figura da do partido, como chegaram a defender alguns aliados no auge da crise. "Não pense que eu fiquei inibido de ser petista, não. Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso porque é o seguinte: nós também não somos infalíveis, cometemos erros e quando cometemos erros nós temos que pagar e pagar forte". (PTL)