Título: "Não tenho duas políticas econômicas", diz Lula
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Política, p. A8
Crise Presidente descarta mudanças de rota e diz que ele, Palocci e Meirelles querem a queda da taxa de juro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem, durante a última rodada de entrevistas para rádios neste fim de ano, que não vai desvalorizar o real por decreto e que as taxas de juros vão cair no momento certo. O presidente também ignorou as divergências de seus ministros sobre os rumos da política econômica, afirmando que não existem divisões na equipe de governo. "Não está dividido porque eu não tenho duas políticas econômicas, não está dividido porque não tem dois comandos. Quem faz a política econômica é o governo", resumiu Lula. "Cada um tem a sua responsabilidade específica, mas a política econômica está colocada e até agora tem dado resultados favoráveis", defendeu. Para Lula, esta história de fogo amigo não existe. "No dia que você tomar uma queimada, vai perceber que não tem fogo amigo. Mesmo que seja a tua esposa que te queime, você vai sentir a dor". Disse que chegou a chamar a atenção do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que teria antecipado a discussão sobre as mudanças na meta de superávit. "Ele falou de uma política de ajuste fiscal de longo prazo antes de se transformar em política de governo", criticou. Lula lembrou que críticas internas sempre ocorreram, inclusive nos governos anteriores. "Você está lembrado que no governo passado uma das figuras importantes do partido que governava o país vivia fustigando o ministro da Fazenda, dizendo que era preciso fazer isso?", provocou. Um dia depois de afirmar que poderia haver ajustes na economia, o presidente voltou a garantir que não haverá mudanças de rotas. "Quando as pessoas falam em mudança na política econômica, o que as pessoas querem dizer na verdade? Baixar a taxa de juros, outros querem superávit. Essas coisas não são feitas com um toque de mágica", reforçou. Alterações na equipe econômica também estão descartadas, de acordo com o presidente. Para ele, não se pode permitir que as críticas, muitas vezes corretas, legítimas e democráticas, façam com que seja tirado o ministro "A" ou "B". "Eu acho que nós temos que acertar com as pessoas que têm competência para acertar e eu acho que as coisas estão indo para o ponto que nós achamos que devem ir", defendeu. Em relação à supervalorização do real perante o dólar, Lula brincou que as pessoas reclamam do câmbio flutuante justamente "porque ele flutua". O presidente aposta que o próprio mercado vá encontrar a proporção ideal entre a moeda brasileira e a norte-americana. " Nós temos que esperar e torcer para que haja um ajuste no câmbio feito pelo próprio mercado, pela situação da nossa relação comercial. Nós não vamos desvalorizar o dólar, o real, por decreto. Isso já foi feito e não deu certo", assegurou o presidente. Sobre os juros, o presidente afirmou que gostaria que eles diminuíssem, um desejo, segundo admitiu, compartilhado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Lembrou, entretanto, que a média dos juros nos últimos 36 meses, é a metade da média da taxa de juros nos últimos 15 anos. E prometeu: "Os juros vão cair e na medida em que o juro cair, a gente vai poder crescer mais; na medida em que a gente crescer mais, aumentar o PIB, a gente até pode ter um superávit menor. Mas essas coisas não serão decididas em função de um ano eleitoral". Lula reconheceu que ficou chateado com o mau resultado do PIB no terceiro trimestre. Mas aposta na retomada do crescimento no quarto trimestre e em 2006. Chegou a chamar um dos entrevistadores de pessimista. "Estou mais otimista do que você. Em 2006, nós vamos crescer muito mais forte, há todas as condições para que a gente cresça muito mais forte", declarou. Acrescentou que, se o Brasil crescer 4% ao ano, durante uma década ou quinze anos, sairá da faixa dos países emergentes e passará para a dos países desenvolvidos. "Por isso é que eu prefiro que a gente cresça, não no nível de 10%, já crescemos 10% e não distribuímos renda", justificou. Segundo o presidente, se o Brasil entrar nesse ciclo virtuoso de crescimento, vai gerar os empregos, distribuir a renda necessária e melhorar as condições de vida da população brasileira: "Nós vamos passar a média de crescimento do governo anterior. Foi para isso que o povo me elegeu". Lula considerou simplista a análise de quem compara as taxas de crescimento do PIB brasileiro com a de outros países. Sem citar nomes, o presidente lembrou que existem países da América do Sul que podem ter crescido mais do que o Brasil, mas que perderam praticamente todo seu parque industrial num passado recente: "Esses países estão começando de um patamar muito inferior ao que o Brasil começou. Nós temos que comparar o Brasil com a nossa lógica, com a nossa realidade. Conscientes de que o Brasil é um país que tem uma indústria forte, tem uma indústria competitiva, é o país mais forte da América Latina, é a economia mais forte".