Título: Pizzolato diz que cumpriu ordens de Gushiken e Casseb
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Política, p. A12

Crise Ex-diretor de Marketing do BB não convence CPI dos Correios sobre contrato entre BB e Visanet

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, depôs durante mais de cinco horas à CPI dos Correios na tarde de ontem, complicou a vida do ex-ministro da Secretaria Especial de Comunicação, Luiz Gushiken, e colocou no centro das denúncias sobre o contrato entre a Visanet/Banco do Brasil e a DNA o ex-presidente da instituição, Cássio Casseb. Ao explicar como foi firmado o contrato entre o Banco do Brasil, a Visanet e a DNA Propaganda, do empresário Marcos Valério de Souza, Pizzolato disse ter recebido ordens de Casseb para assiná-lo e fazer pagamento adiantado à agência de publicidade. Revelou também conversa com Gushiken, na qual tratou do assunto. O ministro lhe teria dito que se tratava de "um bom negócio". "Em abril de 2003, fiquei sabendo que havia um recurso do fundo da Visanet para ser usado em publicidade para as campanhas desse produto. Os recursos não eram do Banco do Brasil, mas da Visanet. Nós já tínhamos aprovado o plano anual e o orçamento e o fundo Visanet estava fora", explicou Pizzolato. Ao saber da novidade, levou o caso a Casseb e Gushiken. "Casseb me mandou conversar com o diretor de varejo e determinou o prosseguimento do planejamento", completou. Com o ex-ministro, a conversa foi em outro tom. "Eu lhe disse que havia um fundo que não era subordinado à Secretaria de Comunicação do Governo para financiar a campanha do Visanet. Ele me disse: 'Assine a nota. Não há nada de errado em seguir adiante'", disse o ex-presidente do BB. "Encarei aquilo como uma ordem do ministro", afirmou. Pizzolato tentou proteger Gushiken. Disse que não concedeu a entrevista publicada pela revista "IstoÉ Dinheiro" na qual diz que Gushiken o mandou assinar o contrato da DNA com a Visanet e fazer o adiantamento da verba. Mas, ao responder as perguntas formuladas pelo senador César Borges (PFL-BA), Pizzolato complicou um pouco mais a vida do ex-ministro. Disse que Gushiken lhe teria dado o aval para fazer o adiantamento do pagamento dos serviços a serem prestados pela DNA em relação à Visanet. Os trabalhos nunca foram prestados e, segundo apurações da CPI dos Correios, o dinheiro teria ido direto para o caixa 2 do PT. Seria uma triangulação de favores financeiros. A DNA recebeu R$ 23 milhões em 2003 e R$ 35 milhões em 2004, fruto dos contratos de publicidade com o BB. Quando o banco depositou os R$ 35 milhões na conta da agência de publicidade, como antecipação dos serviços, a DNA aplicou o dinheiro. Uma semana depois de Valério ter feito a aplicação, a agência transferiu R$ 10 milhões para o BMG. Depois de quatro dias dessa transferência, o BMG aprovou um empréstimo no valor de R$ 10 milhões para a empresa Rogério Lanza Tolentino e Associados, que tem a participação de Marcos Valério. E esse dinheiro já fazia parte da lista de empréstimos que teriam sido feitos por Valério e repassados ao PT. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) irritou-se com as afirmações do ex-funcionário do BB. "O senhor diz que não tinha ingerência no dinheiro. Disse isso várias vezes aqui hoje (ontem). Mas eu tenho aqui um documento de quando foi determinada a realização do plano de marketing para a Visanet. E aqui consta até o número da conta onde seriam depositadas as verbas para a DNA", disse. "Questiono se o relator não deveria usar os poderes que lhe cabem para punir quem mente à CPI, ainda mais quando depõe como testemunha", completou, ao sugerir um pedido de prisão por falso testemunho do depoente. Pizzolato tentou mostrar falta de cuidado de Casseb com a transparência nas ações do banco. Revelou conversa com o ex-presidente do BB na qual propõe a criação de um relatório anual "detalhadíssimo" com todos os gastos da instituição com publicidade. "A reação dele foi descontraída. Disse que aquilo aumentaria a tributação sobre as movimentação financeiras do banco", disse. Eduardo Paes pediu uma acareação entre Pizzolato e Gushiken. No fim da tarde de ontem, Gushiken divulgou nota em que afirma, "de forma cabal e peremptória, que jamais sugeri, jamais soube ou tomei qualquer decisão sobre antecipação de recursos para a DNA ou qualquer outra agência de publicidade". Já Cássio Casseb, procurado pelo Valor não retornou as ligações. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)