Título: Impasse quanto a continuação de Kyoto eleva pressão sobre os EUA
Autor: Gustavo Faleiros
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Internacional, p. A13
Após uma semana e meia de encontros entre técnicos e diplomatas, começou ontem em Montreal o segmento ministerial da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas. Ministros de quase 189 países-membros da Convenção chegam no momento que ainda impera um impasse se haverá ou não uma continuação do Acordo de Kyoto, marcado para terminar em 2012. A Convenção é o fórum permanente da ONU sobre mudanças climáticas e inclui mesmo aqueles países que não ratificaram o Protocolo de Kyoto, como EUA e Austrália. A dificuldade nas negociações tem mais uma vez a resistência americana em discutir metas e compromissos. Os diplomatas americanos têm afirmado que uma continuação de Kyoto só deve ser discutida por aqueles que já estão no Protocolo, travando, desta forma, qualquer conversa mais arrojada na Convenção. A questão é que os canadenses querem trazer os EUA de qualquer forma para um compromisso pós-2012. Um dos piores países no cumprimento das metas de Kyoto, o Canadá teme que sem a presença dos EUA, o maior poluidor do mundo, um novo esforço para a redução de gases estufa seria extremamente custoso para a economia dos países desenvolvidos. "Eu gostaria que os Estados Unidos ouvissem a consciência mundial e tomassem ações imediatas", disse o primeiro-ministro canadense, Paul Martin, na abertura do reunião. Por esperar maior participação americana, o presidente da conferência em Montreal, o ministro de Meio Ambiente do Canadá Stephan Dion, deu sinais que pode adiar para os próximos anos a decisão se haverá ou não uma segunda fase de Kyoto. Organizações não-governamentais afirmam que isso será um sinal muito forte de fracasso das negociações em Montreal. O fato é que a pressão sobre Washington cresce também contra um dos principais argumentos de Bush - o de que a adesão a Kyoto provocaria uma desaceleração econômica do país. Ontem, um grupo de influentes economistas americanos exortaram Bush a pôr de lado a oposição aos cortes obrigatórios de emissão de gases com um argumento que pode soar nos ouvidos do presidente: o de que a participação no acordo reduziria em apenas 1% a produção nacional bruta. Os 25 economistas, três deles vencedores do Nobel, afirmam que os prejuízos econômicos com o aquecimento do planeta superam, de longe, o prejuízo que os EUA teriam ao se adaptar às regras do acordo internacional. O Japão também tem segurado as negociações em Montreal. Segundo negociadores brasileiros, os japoneses estão realmente temerosos de que uma nova fase de Kyoto não imponha restrições a países emergentes asiáticos. A China é a maior preocupação. Na década passada eles se tornaram o segundo maior emissor de gases estufa e seu consumo de combustíveis fósseis não pára de crescer. O Brasil, mais uma vez (já o havia feito na definição de Protocolo de Kyoto), parece estar com uma boa solução nas mãos. Eles propuseram que mecanismos de incentivo a fontes limpas de energia sejam criados na Convenção de Mudanças Climáticas. Caso essa proposta seja aceita, se criaria um novo mecanismo que poderia entrar em vigor imediatamente e livraria os países em desenvolvimento de adotarem metas mais concretas em um tratado pós-2012. Já houve um avanço, pois os países da Convenção aceitaram criar um novo mecanismo para combater o desmatamento de florestas tropicais, uma das maiores fontes emissoras do mundo.