Título: Governo e indústrias divergem no Paraná
Autor: Alda do Amaral Rocha, Cibelle Bouças e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Agronegócios, p. B12

O governo do Paraná ainda mantém esperança de que o Ministério da Agricultura volte atrás na decisão de confirmar o foco febre aftosa no Estado. Representantes do setor produtivo, no entanto, estão divididos sobre as vantagens de insistir na não-comprovação do vírus e exigir novos exames ou partir para o sacrifício dos animais e apressar a solução do caso e o retorno ao mercado internacional. "Entendemos que houve precipitação e vamos lutar para que essa decisão seja revogada", disse o vice-governador e secretário da Agricultura do Estado, Orlando Pessuti. O presidente do Sindicarne do Paraná, Péricles Salazar, discorda. "Na medida em que vamos brigando, os prazos vão seguindo, a retomada das exportações vai sendo dificultada e essas indefinições complicam o trânsito interno de produtos e subprodutos, por isso nós da indústria queremos que essa novela termine de vez", disse. Ontem pela manhã, antes de se reunir com representantes do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa), Pessuti disse que não havia sido avisado oficialmente pelo ministério e não conhecia o teor da nota técnica que trata do assunto. "Soubemos pela imprensa", disse. "Vamos por via diplomática, administrativa e até jurídica contestar a forma com que o ministério adotou esse foco no Paraná". Pessuti sustenta que não há exames conclusivos que atestem a aftosa na fazenda Cachoeira, de São Sebastião da Amoreira, do pecuarista André Carioba Arndt. Para ele, se fosse para confirmar o foco baseado em exames de sorologia, isso poderia ter sido feito logo após a divulgação das suspeitas, em 21 de outubro. "Quem esperou 50 dias poderia esperar mais 10, até o isolamento do vírus, para aí sim afirmar se temos ou não aftosa". O resultado do exame Probang - que serve como contraprova - de 233 amostras coletadas na semana passada, sendo 209 na Cachoeira, deveria sair até 6 de janeiro. O secretário pretende brigar pela conclusão dos testes e, até lá, descarta a morte dos 2.212 animais da fazenda. O patologista e professor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Raimundo Tostes, questionou a legitimidade da decisão do ministério e disse que estão "vulgarizando a ciência". Falando aos representantes do Conesa, até o superintendente do ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowalewski de Souza, discordou da confirmação do foco. "Tenho posição pessoal sobre o que aconteceu, mas estamos acatando as posições emanadas do ministério". Ele disse que ligou para o ministro Roberto Rodrigues para perguntar o que deveria dizer ao grupo e foi orientado a reforçar que a decisão foi técnica.(ML)