Título: Aftosa no PR ameaça exportação em 2006
Autor: Alda do Amaral Rocha, Cibelle Bouças e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2005, Agronegócios, p. B12

Crise sanitária No curtíssimo prazo ressurgimento da doença no Estado não deverá afetar embarques do país

A confirmação pelo Ministério da Agricultura do foco de febre aftosa no Paraná não deve ter efeitos drásticos para as exportações de carnes, ao menos no curto prazo, acreditam analistas e entidades do setor. Novos testes realizados pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) comprovaram a existência de um foco da doença numa propriedade em São Sebastião da Amoreira, no norte do Paraná. A expectativa é de que a Rússia suspenda as compras de carne suína do Paraná e não estenda o embargo à Santa Catarina, o maior Estado exportador do produto. De acordo com Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (reúne os exportadores de carne suína), autoridades russas já recomendaram que o embargo fique restrito ao Paraná por considerarem que a situação neste caso é menos grave que a do Mato Grosso do Sul, onde, desde outubro, foram notificados cerca de 30 focos de aftosa. Apesar disso, a Rússia suspendeu apenas as compras do Estado e poupou os vizinhos. O Valor apurou que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deverá se reunir com seu colega russo, Alexey Gordeyev, para tratar do assunto durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Hong Kong, na próxima semana. Camargo Neto admitiu que se o Paraná ficar sem exportar à Rússia haverá impacto nas vendas. O Estado responde por 20% das exportações brasileiras de carne suína. Empresas como a Sadia já se preparam para um eventual embargo russo ao Paraná. A companhia tem no Estado seu maior abatedouro de suínos, em Toledo, de onde sai boa parte das exportações para a Rússia. Com o possível embargo, a produção de Toledo (7 mil cabeças abatidas por dia) será destinada ao mercado interno e a países que não proibirem a carne brasileira, informou a empresa. As exportações para a Rússia sairão das outras três unidade de suínos: Uberlândia, que abate 3 mil aves por dia, Concórdia (4 mil/dia) e Três Passos (2,5 mil cabeças/dia). O vice-presidente da Coopercentral Aurora, Mário Lanznaster, também não acredita na ampliação do embargo ao suíno brasileiro porque quase todos os países já haviam proibido a importação de carnes do Paraná e a falta de novos focos indicaria que a aftosa está controlada. Segundo ele, no caso de um embargo à Santa Catarina, a Aurora teria condições de transferir parte dos abates para as unidades do Mato Grosso e Rio Grande do Sul. A cooperativa abate 11,5 mil suínos por dia, sendo 8,5 mil em Santa Catarina. Para o presidente do Sindicarne no Paraná, Péricles Salazar, as conseqüências econômicas para o Estado "não devem ser mais intensas do que já foram até agora" porque a área de risco já estava definida pelo Ministério. "Os estados vizinhos, principalmente São Paulo, já abriram mercado para nossos produtos e não há nenhuma razão para mudarem isso." Ele disse que a suinocultura do Estado já estava prejudicada. "Não estávamos conseguindo vender pernil nessa época do ano, para São Paulo, que é nosso maior mercado consumidor", afirmou. O estado vizinho flexibilizou as barreiras antes da confirmação da aftosa no Paraná. Outro efeito do ressurgimento da febre aftosa foi a paralisação das negociações com possíveis novos compradores de carne suína brasileira, como o México, disse Pedro de Camargo Neto. As exportações do produto também já sentem. Em novembro, os embarques totalizaram 41,782 mil toneladas, abaixo das 65,509 mil toneladas de outubro. A receita caiu de US$ 121,8 milhões em outubro para US$ 77,6 milhões no mês passado. A principal razão para a queda foi a greve dos fiscais agropecuários. Mas Camargo Neto admitiu que o embargo de países como Argentina e África do Sul ao produto brasileiro prejudicaram. Diante dos números de novembro, o presidente da Abipecs avalia que a receita no ano deve ficar perto de US$ 1,1 bilhão. A estimativa anterior era US$ 1,15 bilhão. Os volumes devem ficar pouco acima de 600 mil toneladas para uma estimativa anterior de 630 mil. José Vicente Ferraz, do Instituto FNP, não descarta a hipótese de o foco do Paraná levar a Rússia a suspender as importações de carne bovina de todo o país. Isso poderia ocorrer porque nesta época do ano as compras russas diminuem porque os portos estão fechados devido ao inverno rigoroso. Já a reação da União Européia à confirmação do foco no Paraná é um incógnita. Analistas e exportadores estão na expectativa da reunião de hoje, em Bruxelas, do comitê veterinário da UE. Há temor de que o bloco amplie o embargo às compras de carne bovina do país - hoje restrito a Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo - por não estar satisfeito com as explicações dadas pelo Brasil nos recentes de casos de aftosa. No entanto, a falta de muitas alternativas ao Brasil para comprar carne bovina pode levar à UE a ter uma postura mais branda, avalia Ferraz, da FNP. Segundo ele, o embargo atual já provoca alta dos preços de cortes na exportação, já que a oferta é menor. Segundo Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, de setembro para cá, a tonelada do filé bovino, por exemplo, saiu de US$ 6 mil a US$ 8 mil para US$ 14 mil. "É difícil ampliar o embargo porque a UE tem problema de abastecimento", afirmou. Ele avalia, contudo, que o aumento da restrição à carne brasileira não é impossível, mas se ocorrer será por não mais de 60 dias.