Título: Pobreza pode cair 0,4% no Brasil, diz Bird
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2005, Brasil, p. A5
Relações externas Banco Mundial reduz expectativas com benefícios sociais, após dificuldades nas negociações
O Brasil será um dos países mais beneficiados em redução de índices de pobreza se a Rodada Doha conseguir avançar na liberalização do comércio agrícola, segundo dois novos livros do Banco Mundial (Bird) sobre o tema lançados ontem. O Banco Mundial estima que 236 mil brasileiros ultrapassariam a linha de pobreza (uma redução de 0,4%) a curto prazo se a rodada conseguisse reduzir a média de tarifas mundiais sobre produtos agrícolas em 75% e colocasse apenas 2% das linhas tarifárias agrícolas como produtos "sensíveis", que poderiam ter proteção adicional contra importações. A longo prazo, mantendo este resultado, os novos investimentos previstos no setor agrícola poderiam retirar da pobreza 380 mil pessoas. No caso hipotético de liberalização comercial total, 482 mil brasileiros poderiam sair da pobreza a curto prazo e até 1 milhão a longo prazo. Segundo o estudo, se fosse atingida uma liberalização total, o número de pobres em 2015 cairia em 32 milhões de pessoas, redução de 5% em relação ao número previsto de 622 milhões de pessoas em pobreza extrema (renda de menos de US$ 1 ao dia). Considerando o patamar de US$ 2 ao dia, o número seria reduzido em 65,6 milhões, ou 3,6%. Em estudos anteriores, o Banco Mundial previa redução maior, porque estimava número maior de pobres (734 milhões em 2015). A redução do número de pobres seria menor considerando hipóteses bem menos ambiciosas. Em relação à possibilidade de redução de 32 milhões de pobres no mundo pelo critério de US$ 1 ao dia e liberalização total, algumas estimativas mostram o efeito pernicioso de não avançar nas negociações de Doha. No caso de liberalização agrícola com grande volume de produtos sensíveis limitando a redução de tarifas, a pobreza aumentaria em 100 mil pessoas (o pior cenário possível). Considerando uma rodada bem-sucedida com efeitos positivos sobre a produtividade, 4,3 milhões de pessoas sairiam da pobreza, e com o melhor cenário (rodada que inclua cortes recíprocos), a redução seria de 6,3 milhões no número de pobres. O mesmo ocorre considerando os cenários de US$ 2 ao dia. Ao invés de possível redução de 65,6 milhões no número de pobres, uma negociação agrícola com excesso de produtos sensíveis elevaria o número total em 300 mil, uma rodada com efeitos positivos sobre produtividade reduziria a pobreza em 12 milhões e o melhor resultado possível, em 13,3 milhões. Em relação a estimativas anteriores, o Banco Mundial reduziu os benefícios sociais que poderiam ser gerados a partir da negociação da Rodada, pela dificuldade nas negociações. Mesmo o cenário previsto pelos economistas nas simulações não está garantido. A UE, por exemplo, defende que 8% das linhas tarifárias agrícolas sejam considerados "sensíveis" e portanto protegidos da concorrência de importações. "Quanto mais produtos sensíveis e menor o corte médio de tarifas, menor será a redução da pobreza", afirma o diretor do Bird Alan Winters, editor do livro "Pobreza e OMC". O consultor do Banco Mundial Richard Newfarmer, calcula que cada 2% de linhas tarifárias incluídas como produtos sensíveis reduzem os benefícios da rodada em 10% a 15%. Os benefícios não serão uniformes para todos os países em desenvolvimento. Alguns terão mais pobreza a curto prazo, por causa da perda de preferências na exportação para UE ou EUA. Entre eles, México, Bangladesh, Moçambique e Rússia.