Título: Resistência tucana leva PFL a buscar PMDB
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2005, Política, p. A6

Dificuldades na composição das alianças regionais, especialmente em São Paulo, estão criando embaraços na negociação entre PSDB e PFL com vistas à reedição da coligação que elegeu e reelegeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os tucanos não abrem mão de apresentar um candidato à sucessão do governador Geraldo Alckmin, cargo que os pefelistas gostariam de disputar com o empresário Guilherme Afif Domingos. Os pefelistas querem ficar tanto com a prefeitura da capital, caso o candidato tucano seja José Serra, como com o governo do Estado, se o indicado for Geraldo Alckmin - o governador disputaria outro mandato eletivo. Assumiriam os vices Gilberto Kassab e Cláudio Lembo, respectivamente. Em qualquer uma das hipóteses, o PFL reivindica o apoio do PSDB para o governo do Estado, mas já recebeu sinais de que os tucanos terão candidato próprio ao cargo. Diante da resistência tucana, os pefelistas resolveram enviar um recado ao PSDB: na noite da última quarta-feira, o presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), jantou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Estava acompanhado do ministro do Tribunal de Contas da União Guilherme Palmeira, um hábil articulador pefelista. Bornhausen sondou Renan sobre as intenções pemedebistas. Saiu convencido de que a candidatura Nelson Jobim é para valer. Especularam também sobre eventual entendimento entre as siglas. Segundo o Valor apurou, Bornhausen sugeriu que para o PFL mais importante do que ter a vice são as composições regionais que permitam bom desempenho eleitoral do partido. A desistência antecipada do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, da candidatura à Presidência da República afetou o poder de barganha do PFL para negociar composições nos Estados com o PSDB, avaliam integrantes da cúpula tucana. Cesar Maia havia se comprometido com a direção do PFL em segurar a candidatura própria pelo menos até março de 2006, período suficiente para tucanos e pefelistas analisarem as alianças regionais possíveis. Com a estratégia de negociação afetada, os pefelistas colocaram em prática um plano B. O jantar Bornhausen e Renan é parte dele. "O PFL está jogando nisso para pressionar o PSDB. É jogo de pressão e encenação: Pedro ama Maria que diz que ama João para fazer ciúme em Pedro", definiu um pemedebista. A aproximação PFL/PMDB é remota, pois um grupo significativo dos pemedebistas ainda aposta na manutenção da aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois partidos vislumbram pelo menos uma aliança no Amazonas, caso caia a regra da verticalização das alianças. Se o PFL apoiar a reeleição de Eduardo Braga e Gilberto Mestrinho para o Senado, os pemedebistas apoiarão os planos futuros do ex-governador Amazonino Mendes (PFL). Já o leque de alianças com o PSDB é muito mais amplo e viável. O PFL negocia, na aliança com o PSDB, liderar a chapa em pelo menos sete Estados. A briga maior será pela candidatura em São Paulo, mas também são consideradas preponderantes as coligações em Santa Catarina, Sergipe e Rio Grande do Norte. Em São Paulo, os pefelistas consideram ter chances de emplacar a candidatura de Afif Domingos. Há dois meses, o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), conversou sobre o tema com o governador Geraldo Alckmin. Num diálogo franco, Alckmin disse que os dois partidos ainda não têm candidatos competitivos com os petistas Marta Suplicy e Aloizio Mercadante e, portanto, precisam prever cenários com cautela. "O que nós queremos é uma boa e racional composição nos Estados. Quem tiver o candidato mais forte será apoiado pelo PSDB, e vice-versa", disse Agripino. "Em São Paulo o jogo a ser jogado entre PFL e PSDB terá que ser comandado pela racionalidade", acrescentou. Pefelistas e tucanos disputam ainda a cabeça de chapa em Pernambuco (o vice-governador pefelista José Mendonça Bezerra Filho ou o senador tucano Sérgio Guerra), Sergipe (Albano Franco e João Alves), Bahia (Paulo Souto e Jutahy Júnior) e Goiás (Marconi Perillo e Ronaldo Caiado). Em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina a aliança será firmada sem traumas, dizem os pefelistas. Não há dúvidas na direção dos dois partidos que a aliança nacional PSDB-PFL será selada, possivelmente com José Serra na cabeça de chapa e Maia de vice. A avaliação não é subjetiva, mas matemática. PSDB e PFL sabem que um candidato à Presidência, para ser competitivo, precisa ter expressiva votação em São Paulo, que detém cerca de 30% do eleitorado nacional. As pesquisas feitas pelo PSDB revelam que Alckmin tem vantagem maciça em determinadas regiões do Estado, mas na avaliação geral é Serra quem tem o melhor desempenho eleitoral.