Título: Indefinido sobre a reeleição, Lula cogita apoio a Ciro ou Tarso Genro
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2005, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a especular sobre a hipótese de não disputar a reeleição. Lula admitiu essa possibilidade a pelo menos três interlocutores, em conversas recentes, mas sempre com uma ressalva: se não concorrer, o presidente terá um candidato na sucessão. Seria o ministro da Integração Nacional Ciro Gomes. Eventualmente cita também o nome do ex-ministro da Educação Tarso Genro. Ele já teria conversado sobre o tema com os dois. É uma espécie de Plano B, de vez que a reeleição é o projeto do presidente e do PT. Entre pessoas próximas a Lula, também cresceu o sentimento de que o presidente pode não se recandidatar. Isso ocorreria na hipótese dele perder bem mais popularidade - uma rejeição superior a 40%, próxima ao período eleitoral, é difícil de reverter, segundo os especialistas. E a de Lula bateu na casa dos 47% na última pesquisa CNT/Sensus divulgada há três semanas. Se admite não concorrer, por outro lado o presidente sempre demonstra disposição de defender a qualquer custo seu mandato. Na hipótese de não disputar a reeleição, Lula teria um papel ativo na campanha para defender-se das acusações morais e o patrimônio que julga ter construído em quatro anos no Palácio do Planalto: crescimento econômico, Bolsa Família, ProUni, Biodiesel, reestruturação do setor elétrico, entre outras realizações de governo. Lula até admite que setores à esquerda dele, como o P-SOL e o MST, para citar dois exemplos, possam atacar o governo. Mas fica inconformado com a simples possibilidade de que programas como o Bolsa Família sejam desqualificados por PSDB ou PFL. O que Lula não quer, segundo os interlocutores do presidente, é ser humilhado na eleição presidencial de 2006. Saindo de foco, defenderia seu governo e deixaria para o candidato que apoiar tratar de vender esperanças sem ter que ficar justificando o passado. Mas a variável Ciro Gomes é levada em conta também pelo perfil agressivo do ministro da Integração Nacional no embate com a oposição. No PSB, partido de Ciro Gomes, e no PT, partido de Tarso Genro, as manifestações do presidente são vistas com muitas reservas. Só mesmo com uma queda ainda mais acentuada nas pesquisas de opinião pública. O diagnóstico comum é que Lula não quer colocar as cartas na mesa e anunciar a disposição de disputar a reeleição com muita antecedência. Isso o tornaria refém da recandidatura, sujeitando-o a todo o tipo de pressão na hora de costurar os apoios, especialmente estando mal avaliado nas pesquisas, como ocorre agora. Por outro lado, ao sugerir que pode não se candidatar novamente, Lula manda um recado para o PT, partido que precisa dele para seu projeto eleitoral, mas a cada dia está mais indócil em suas relações com o presidente. Prova disso é que conseguiu influir nas decisões do PTB e do PP de apoiar o fim da verticalização, mas não conseguiu demover até agora o próprio partido, que fechou questão contra a proposta de emenda constitucional em tramitação na Câmara dos Deputados. Os partidos que apóiam a emenda avaliam que precisam de mais 15 votos do PT para alcançar os 308 necessários para sua aprovação. Lula tentou mudar a posição do partido por intermédio do presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) e do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Sem êxito. Ao restringir as alianças nos Estados, o PT evita que Lula pressione no futuro em favor de coligações, nas eleições proporcionais, com partidos que atrair para a composição nacional. Cada novo aliado pode significar menos um deputado do PT eleito. Para Lula, no entanto, o fim da verticalização pode ser vital, pois isso ampliaria sua margem de manobra nas articulações com outras legendas, como o PMDB, por exemplo. Por mais que os dirigentes pemedebistas tenham lhe dito que a candidatura própria é irreversível, o presidente ainda acha que o PMDB pode ceder o candidato a vice de sua chapa. De preferência, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim.