Título: Insatisfeita com Lula, indústria farmacêutica busca alternativas
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2005, Política, p. A8

Eleições Farmácia Popular e fracionamento de embalagens levam descontentamento ao setor

A 11 meses da eleição presidencial, num cenário ainda pouco definido de candidaturas, a indústria farmacêutica é um dos primeiros setores a declarar publicamente sua agenda para a disputa de 2006. Descontente com a gestão dos dois principais pilares da atual política de saúde do governo federal - o Farmácia Popular, programa que prevê a venda subsidiada de medicamentos, e o fracionamento das embalagens dos remédios - a indústria farmacêutica está disposta a se expor ao debate presidencial. A Novartis, farmacêutica suíça, assume claramente o apoio financeiro a candidaturas que apresentem uma alternativa ao modelo de saúde do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Seja quem for o eleito, o presidente da Novartis, Patrice Zagamé, que é francês e não vota no país, espera que a política para o setor seja modificada. "Lula tem a dimensão do problema, mas os desafios são complexos e enormes. Mas não dá para falar da lógica (da política de saúde) do atual governo", afirmou. "É preciso mudar." Quanto aos possíveis candidatos tucanos, o presidente da Novartis avalia que o prefeito de São Paulo, José Serra, tem uma "visão conhecida na formatação da Saúde" devido ao período em que exerceu o cargo de ministro da área no governo Fernando Henrique Cardoso. E, no caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o executivo enfatizou que o tucano tem ajudado o setor no combate à informalidade. Ele completou dizendo não ter contato com o ex-governador e pré-candidato do PMDB à presidência da República, Anthony Garotinho, e não conhecer suas idéias para o setor. A Novartis, uma das cinco maiores companhias farmacêuticas no país, doou dinheiro para as campanhas de Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em eleições passadas, mas tomou a decisão de fazer doações no futuro apenas para os políticos que se comprometam com as causas defendidas pela empresa. "Somos uma empresa grande, formal, que atua na legalidade. Quando um deputado vier a nós pedir apoio financeiro, ele deve se comprometer com a nossa causa (de combate à informalidade)", disse o diretor corporativo da Novartis, Nelson Mussolini. "Temos nossas limitações de recursos e limitações do ponto de vista ético", disse. E acrescentou: "A contribuição é um direito e queremos participar da democracia." Segundo Zagamé, a intenção é cobrar também do próximo governo uma politica para fazer as parcerias entre o setor público e privado na área farmacêutico. "É preciso enfrentar o desafio da questão social. Porque se não acontecer nada, as coisas vão tomar uma tensão social muito grande. A Novartis, uma empresa de US$ 28 bilhões em vendas, vai sobreviver, mas o país precisa encarar o problema", disse. O presidente da Novartis no Brasil reconhece que a Lei de Patentes e a liberdade de preços continuam como bandeiras do setor, mas faz questão de enfatizar que a prioridade a ser combatida é a informalidade. Segundo Zagamé, ela tem reduzido o espaço para as empresas que atuam corretamente no setor. "É difícil manter um grau de investimento no país quando se tem competição, que já é acirrada, com a economia informal", disse. "Valorizamos a inovação." Além da Novartis, outros laboratórios privados, nacionais e estrangeiros, estão se organizando em entidades de classe, como a Interfarma, Febrafarma e Fiesp, e outros institutos, como o Etco, para defender suas propostas na disputa do ano que vem. Um estudo apresentado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) - elaborado pela consultoria McKinsey e a advocacia Pinheiro Neto - mostrou que a sonegação fiscal representa quase um quarto do setor farmacêutico, gerando uma evasão de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões por ano.