Título: IPCA não deve mudar apostas para o Copom
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2005, Finanças, p. C2

Há diante do Banco Central um caminho muito fácil e rápido para ganhar a queda-de-braço travada com os especuladores internacionais empenhados em depreciar o dólar e validar as arbitragens cujo único alvo é a obtenção do juro brasileiro. Basta derrubar a taxa Selic, reduzindo a rentabilidade dos ativos para um patamar incompatível com o risco da operação. Mas isso o BC não fará. O mercado futuro de juros da BM&F, mesmo depois que se cristalizou a certeza de que o BC quer puxar o dólar para cima, insiste na previsão de uma baixa do juro básico de apenas meio ponto na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para a semana que vem. O contrato para a virada do ano recuou ontem 0,03 ponto, para 18,04%. O pregão admite uma ampliação do afrouxamento monetário mas só para a reunião de janeiro. O contrato para fevereiro, com CDI a 17,81%, admite corte de 0,75 ponto na primeira reunião de 2006. O vencimento de maior liquidez, relativo a janeiro de 2007, subiu ontem 0,03 ponto, para 16,66%. As apostas para o encontro do Comitê agendado para quarta-feira serão finalizadas hoje, depois que o IBGE divulgar o IPCA (índice que baliza o sistema de metas de inflação) referente a novembro. O indicador precisa vir muito bom para que cresça a ala, ainda bem reduzida, dos economistas de bancos que prevêem ampliação imediata do corte para 0,75 ponto. Mas isso não deve acontecer. O IPCA mostra-se em declínio - do 0,75% de outubro, deve recuar para algo entre 0,53% e 0,58% -, ainda insuficiente para comover os integrantes do Copom.

Maioria dos analistas prevê corte de 0,5 ponto

Parece não bastar a constatação de que a decisão que for tomada na semana que vem só terá efeito no segundo trimestre de 2006 - um ano para o qual as projeções de IPCA estão bem comportadas, quase no centro da meta de 4,5%. Nem convence a argumentação de que, no ano que vem, o Copom irá se reunir somente oito vezes. Seria importante transformar, com um novo ritmo de corte mais acentuado do juro, a última reunião de 2005 na primeira de 2006. Uma corrente de analistas acredita, porém, que o BC insistirá no compasso de meio ponto de queda porque diminuíram nos últimos dias as pressões por reduções mais agressivas surgidas depois da decepção com a queda de 1,2% sofrida pelo PIB no terceiro trimestre. Outra sustenta o ponto de vista oposto: se o fogo amigo se abrandou é até possível que o Copom já seja mais generoso. O argumento é que, em nome da manutenção da independência, sob pressão o BC não cede nada. Sem ela, exercerá a autonomia no sentido desejado pelos inimigos. A ofensiva do BC por um dólar mais alto contagiou o mercado secundário de títulos da dívida externa brasileira. O risco-país, que na terça-feira bateu no recorde histórico absoluto de 316 pontos-base, auge da febre especulativa pró-Brasil, avançou ontem a 324 pontos-base. O Global 40, bônus brasileiro mais negociado, caiu ontem 0,55%, para US$ 1,2506.