Título: Volume importado cresce 101% até outubro
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Brasil, p. A3

Depois de infernizar a vida das indústrias calçadistas brasileiras no mercado internacional, os fabricantes chineses começam a assustar também dentro do país. Segundo a Abicalçados, as importações de calçados da China pelo Brasil cresceram 67,8% em valores de janeiro a outubro em comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 64,1 milhões (ou 70% do total importado pelo país no setor), e 101,2% em volume, para 11,6 milhões de pares. Segundo Ênio Klein, consultor da Abicalçados, os produtos chineses vendidos no Brasil chegam a custar menos de 50% do que um similar nacional. De acordo com ele, além do câmbio favorável e dos custos inferiores, importadores no país e exportadores da China costumam utilizar formas veladas de subfaturamento para reduzir a incidência de tributos, inclusive o imposto de importação de 35%. A situação levou representantes do setor e o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), a pedirem uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando irão reivindicar a aplicação de salvaguardas contra as importações de produtos chineses, com elevação de tarifas e estabelecimento de cotas. No encontro, que deveria ter sido realizado ontem, mas foi adiado para o dia 21 por problemas na agenda presidencial, os calçadistas gaúchos vão pedir ainda o reforço na repressão ao contrabando e uma linha de emergência do do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar o capital de giro das empresas. Conforme o relatório da Unido, apresentado em setembro no México, com a produção de 7,65 bilhões de pares, a China responde hoje por 58,8% do volume mundial do setor e deve avançar ainda mais. A expectativa é que a participação alcance 61,5% em 2009, quando os chineses irão fabricar 8,9 bilhões de pares, e encontre o "ponto de equilíbrio" na faixa dos 65% nos anos seguintes. De acordo com o estudo, o fator limitante para a manutenção das altas taxas de crescimento registradas pela indústria calçadista chinesa nos próximos anos é a redução na disponibilidade de mão-de-obra nas regiões produtoras mais importantes, junto às cidades portuárias no sudeste do país. O relatório aponta ainda o surgimento das primeiras "inquietações" trabalhistas no setor, que está começando a perder trabalhadores para outros segmentos da economia, como as indústrias eletrônicas e automotivas. Segundo a Unido, os empregados das indústrias de calçados da China trabalham em média dez horas diárias, seis dias por semana e desfrutam de três feriados prolongados de sete dias por ano. O salário médio de chão de fábrica é de 1 mil yuans (cerca de US$ 123), mas a tendência é que o valor suba três vezes em seis anos em função da falta de mão-de-obra. (SB)