Título: Alckmin lança-se como candidato e ganha apoio de Antônio Ermírio
Autor: Cristiane Agostine e Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Política, p. A5

Um dia depois de ter assumido ser pré-candidato à Presidência em 2006 pelo PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ganhou um apoio de peso entre os empresários. Ontem, Antônio Ermírio de Moraes, presidente da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e presidente do conselho do grupo Votorantim, declarou preferir a candidatura do governador paulista à do prefeito de São Paulo, José Serra, do PSDB. "Os dois são muito bons nomes. Alckmin é um nome espetacular. Serra também é uma ótima pessoa, mas disse que ficaria na prefeitura até o fim do mandato. Se ele largar (a prefeitura) para disputar a Presidência, vai ficar mal, não é?", disse o empresário, durante cerimônia de encerramento das obras de restauração do Obelisco do Largo da Memória, instalado no centro antigo paulistano e considerado o monumento mais velho da cidade, com 191 anos. A reforma foi patrocinada pela CBA. A cerimônia contou com a participação do prefeito Serra, que saiu estrategicamente do local para não repercutir as declarações de Alckmin no programa "Roda Viva", da TV Cultura, na segunda-feira. Com um ar cansado, Antônio Ermírio afirmou ainda que espera um "certo tumulto" no aspecto econômico no ano que vem, por conta das eleições presidenciais. "Mas devemos passar tranqüilamente por esse processo". O empresário evitou fazer projeções sobre os rumos das taxas de juros em 2006, mas disse que, com o dólar valendo R$ 2,30 "estaria bom para a gente sobreviver", referindo-se às empresas do grupo. O governador Geraldo Alckmin reafirmou ontem que é postulante do partido, disse buscar entendimento entre os tucanos para que não haja prévias e revelou ter assumido de forma enérgica sua posição aos cacifes do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, e também a José Serra, ex-presidente da legenda. "(Assumi porque) sou sincero, sou franco, não tenho essa coisa de tergiversar, de pensar uma coisa e dizer outra. Falo o que penso. A decisão é no ano que vem, mas tenho vontade, e nós temos time para isso", pontuou ontem em São Paulo, depois de assinar um contrato para liberação de recursos para área de saúde. Em discurso como candidato, o governador paulista disse que quer ser presidente da República para poder investir em avanços econômicos e proporcionar ao país níveis mais elevados de crescimento. E criticou a política econômica do governo federal. "Tenho experiência para poder enfrentar o desafio para remover os gargalos que o país tem. O país é vocacionado para o crescimento e não podemos nos conformar com um crescimento que é a metade do que os países emergentes conseguiram. Em um mundo de mudanças rápidas, não vão esperar o Brasil e não podemos ser lanterninha". Alckmin citou que pretende implementar reformas administrativa, tributária, fiscal e trabalhista. "Não quero ser candidato a presidente para ficar nesse marasmo. Aí não vale a pena. É para assumir desafio de implantar reformas para fazer crescer e enfrentar pobreza." Já o prefeito José Serra evitou a imprensa durante todo o dia de ontem. De manhã, no evento com Antônio Ermírio e, à tarde, depois do anúncio das festividades de fim de ano da cidade, na prefeitura, junto ao vice, Gilberto Kassab (PFL). Mas, tucanos consideram natural a discrição de Serra. "Existem outros candidatos além do Alckmin, mas ele é o único que se pronunciou claramente. O Serra não pode fazer isso agora. Ele está no início do governo e, caso se coloque como pré-candidato, o governo dele termina. Ele só vai se pronunciar se sentir que efetivamente é a vontade do partido", disse o ex-presidente do diretório de São Paulo, deputado Antonio Carlos Pannunzio. Com a declaração de Alckmin, o PSDB paulista acenou que pode antecipar para janeiro a decisão sobre qual vai ser o candidato tucano ao governo federal. A intenção, até poucos dias atrás, era a de firmar o nome apenas no fim de março, às vésperas do prazo final para desincompatibilização. "O prazo para definir quem vai deixar o governo e concorrer se aproxima e é natural que quem quer ser candidato demonstre abertamente. Alckmin fez um bom avanço, ele é mais retraído e se colocou e demonstrou que está mais descontraído", analisou Pannunzio. Além de Alckmin e Serra, o PSDB cogita o governador de Minas, Aécio Neves, para o cargo. O governador paulista disse defender a aliança com o PFL, mas alguns pefelistas, por meio do vice-presidente do partido, prefeito do Rio, Cesar Maia, sinalizaram preferência por um acordo com Serra na cabeça de chapa. Maia disse que abriria mão de sua candidatura caso Serra fosse o candidato tucano, porque os dois têm perfis semelhantes. Para a escolha, o partido pretende realizar mais uma pesquisa quantitativa e qualitativa, além de consultas às lideranças. "Mas não vamos nos basear somente nas pesquisas. Existem outros componentes, como as alianças, especialmente com o PFL. Vamos ver qual a candidatura vai ter maior viabilidade", disse o presidente do diretório estadual do PSDB de São Paulo, deputado estadual Sidnei Beraldo.