Título: Com ajuda de ACM, Palocci evita convocação
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Política, p. A6

Crise CPI dos Bingos faz novo convite a ministro, mas só para 2006

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, conseguiu, mais uma vez, driblar a oposição e escapar da convocação para depor à CPI dos Bingos. Negociações iniciadas há dois dias e uma carta enviada pelo ministro à comissão conseguiram minar a ofensiva de PFL e PSDB e impediram a votação do requerimento para intimá-lo. O fator de desequilíbrio de forças a favor do governo foi o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Ele avisou aos companheiros de partido que votaria contra o pedido para obrigar o ministro a prestar depoimento. Assim, Palocci foi convidado pela terceira vez para ir à comissão, mas apenas em 2006, como queria. O cacique baiano atrapalhou os planos do presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), e do relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Pela manhã, os dois reiteravam a intenção de colocar o requerimento a voto. Mas, sem convencer ACM, nada poderia ser feito. Sem o voto dele, a oposição perderia a disputa por 8 votos a 7, mesmo com a definição do PDT em votar a favor do pedido de convocação. "ACM é ACM. Não podemos fazer nada", confidenciou um senador do PFL ao Valor. A negociação com ACM tornou possível aos governistas conseguirem emplacar a estratégia traçada na segunda-feira. Como previsto, Palocci escreveu uma carta ao presidente Efraim Morais, na qual reafirmou o desejo de falar aos senadores. "Reitero neste momento minha disposição permanente de prestar esclarecimentos que se façam necessários sobre toda e qualquer questão, vinculada ou não ao cargo que hoje ocupo", escreveu o ministro para, em seguida, pedir paciência. "Não posso deixar de pedir-lhe compreensão para o fato sabido de que minhas obrigações exigem freqüentes viagens nacionais e internacionais", completou. O ministro, então, deixou a cargo dos senadores a decisão sobre a ida dele ao Congresso. A simples presença do senador Augusto Botelho (PDT-RR) no plenário da comissão - ele votaria contra a convocação e seria substituído pelo partido caso mantivesse esse entendimento - era indicativo de que o requerimento não seria votado. Imediatamente depois da leitura da carta pelo presidente, Tião Viana (PT-AC) defendeu a carta "respeitosa" do ministro e repassou a palavra a ACM. "O presidente da comissão sai muito prestigiado com essa carta. Seria um gesto de grandeza dar mais esse tempo ao ministro. Seria uma prova de força e grandeza", disse o pefelista. José Jorge (PFL-PE), Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e o líder do PFL, José Agripino (RN), cientes da falta de apoio ao requerimento, tentaram marcar posição. Protestaram contra a manobra e pediram, como alternativa, que o presidente marcasse ainda na sessão de ontem uma data para a ida do ministro. "Temos de dar uma satisfação à sociedade", disse José Jorge. "Só há duas datas que o ministro aceita vir: no dia 31 de fevereiro e no dia de São Nunca. Peço que o presidente marque um dia certo", reivindicou Antero. Agripino concordou com o tucano e aceitou a substituição do requerimento pela carta, como forma de compromisso firmado pelo ministro. "A carta exime a necessidade de votarmos o requerimento. Precisamos fixar uma data", afirmou. Efraim pediu a palavra e ponderou a falta de certeza sobre a convocação do Congresso durante o recesso (a decisão oficial sobre o assunto só sai hoje). Mesmo assim, deliberou: com ou sem convocação, Palocci deverá depor à CPI na primeira semana depois da retomada dos trabalhos, seja em janeiro, seja em fevereiro. O governo deixou a CPI comemorando. ACM sorria. A oposição tentava, de todo jeito, classificar a decisão como uma convocação do ministro. Mas, de fato, ele foi apenas convidado pela terceira vez. Se não vier, Efraim promete, de novo, colocar a convocação a voto.