Título: Governo adia decisão sobre o mínimo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Política, p. A7

Após reunião no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o relator do Orçamento, deputado Carlito Merss (PT-SC), afirmou que o anúncio do novo salário mínimo só deve acontecer semana que vem. Mas a tendência é de que ele suba para R$ 340 a partir de maio, maior do que os R$ 321 previstos na proposta original do Orçamento. O valor é defendido pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, quer um reajuste ainda mais alto: R$ 350. Mas as contas da Previdência contribuem para que a proposta da equipe econômica esteja em vantagem. O mínimo de R$ 340 causaria um impacto de R$ 3 bilhões na Previdência. Já um reajuste para R$ 350 elevaria o déficit para R$ 4,6 bilhões. "Menos de R$ 340 não entra em meu relatório", garantiu Merss. Da reunião participaram, além de Lula e Carlito, os ministros do Planejamento e do Trabalho, da Casa Civil, Dilma Rousseff e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal. Lula solicitou aos ministros uma exposição dos números disponíveis no Orçamento e todas as simulações possíveis de aumento. "O valor do mínimo e o impacto sobre o Orçamento vão definir os recursos disponíveis para outras necessidades, como o reajuste dos servidores públicos, a correção da tabela do Imposto de Renda e as compensações das perdas da Lei Kandir", exemplificou Merss. Carlito Merss confirmou que a intenção do Planalto é dar o maior aumento possível. "Foi consenso entre todos os ministros de que, dentre todas as reivindicações para o Orçamento, o salário mínimo é o mais justo socialmente", justificou o deputado. Segundo o relator do Orçamento, Marinho defendeu que o reajuste para R$ 350 provocaria um aquecimento da economia nacional. "Ele falou, e eu concordo, que esses R$ 10 a mais no bolso dos trabalhadores acabam retornando à economia por conta do aumento no consumo", acrescentou. Durante cerimônia do Dia do Marinheiro, o vice-presidente José Alencar declarou que todos desejam um reajuste digno para o salário mínimo. "A começar pelo presidente Lula, que tem uma sensibilidade social inegável. O que ele deseja é o melhor para os trabalhadores. Por outro lado, ele sabe até onde pode ir", ponderou o vice. De acordo com o relator do Orçamento, Lula não emitiu opinião durante o encontro, solicitando apenas aos ministros que mostrassem o reajuste possível para o mínimo. "O Bernardo e o Marinho colocavam as propostas e o Murilo Portugal só fazia as contas", brincou Merss. O petista acredita que até o final desta semana sejam votados os relatórios setoriais. Na tarde de ontem, estava prevista a aprovação da reestimativa de receita, que chegaria a R$ 10 bilhões. "Se votarmos essa semana os relatórios setoriais, poderemos votar o Orçamento na Comissão na terça que vem e em plenário, na quinta 22", previu o petista. O governo vai endurecer o discurso para tentar aprovar o Orçamento ainda este ano. De acordo com um assessor palaciano, a oposição não está obstruindo os trabalhos e sim, protelando a votação do Orçamento. O Planalto já avisou que não pretende convocar o Parlamento extraordinariamente em janeiro, caso o Orçamento não seja votado até o dia 30 de dezembro. Se isso for necessário, contudo, o governo pretende debitar das verbas previstas para o reajuste do salário mínimo os gastos com os salários extras dos parlamentares. "A intenção é transferir o ônus para o colo da oposição. O governo quer começar 2006 com Orçamento novo", confidenciou um aliado do Planalto.