Título: Pacote é superficial e tardio
Autor: Otoni, Luciana; Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 06/05/2010, Economia, p. 21

Exportadores consideram que ações não atacam principal problema: a valorização do real. Setor vem perdendo receitas e mercados no exterior

Superficiais e tardias. É como o setor exportador classificou o pacote de estímulo às vendas ao exterior anunciado pelo governo. A avaliação é que a criação de uma empresa subsidiária do BNDES para financiar os embarques e do Fundo Garantidor de Comércio Exterior (FGCE), além da redução dos prazos de devolução dos créditos, compõem um conjunto de ações que não atacam e nem compensam as perdas decorrentes do câmbio valorizado, que faz as receitas em dólar despencarem. As empresas também dizem que o pacote não possui medidas específicas para as exportações de bens industrializados, as mais prejudicadas com a desvalorização da moeda norte-americana e com a concorrência dos produtos asiáticos, principalmente dos chineses. ¿Esse pacote é uma resposta política que pretende esconder o problema principal, que é o câmbio e o efeito disso nas nossas vendas ao exterior¿, afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira de Exportadores (AEB), José Augusto de Castro. Ele analisou como incerto o efeito das nove medidas anunciadas, já que vários fabricantes brasileiros perderam mercados por não conseguirem sustentar preços competitivos. ¿É uma pena porque a fabricação de itens manufaturados destinados à exportação é um dos processos que mais geram empregos.¿

Devolução de créditos Outro problema do pacote, comentou Castro, é que a decisão do governo de reduzir de cinco anos para 30 dias o prazo limite para a devolução de créditos tributários (PIS, Cofins e IPI) abrange as operações feitas a partir deste mês. Ou seja, os R$ 10 bilhões em créditos já acumulados pelo setor não farão parte dessa medida e tendem a ser liberados a conta-gotas. Críticas e insatisfação partem também da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que não vê motivos para comemoração. O presidente da entidade, Armando Monteiro Neto, foi categórico em afirmar que os problemas são oriundos da relação entre o real forte e o dólar fraco e os gargalos para escoar a produção. ¿Não sejamos ingênuos. O Brasil tem um problema sério de apreciação cambial, de legislação e de infraestrutura¿, frisou. Ao lembrar que este é um ano eleitoral e que o regime cambial é algo que terá que ser discutido pelos candidatos à Presidência da República, Monteiro Neto disse que o governo e o setor produtivo têm que desarmar o binômio câmbio-juros, desfavorável ao setor produtivo. Ele também reclamou que os gastos públicos estão sobrecarregando a política monetária e fazendo com que os juros tenham que ser elevados para conter as pressões de preços.