Título: Fundação Ruben Berta fará empréstimo à aérea
Autor: Daniel Rittner e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Empresas &, p. B3

O dinheiro que Nelson Tanure, controlador da Docas Investimentos, se comprometeu a pagar à Fundação Ruben Berta para ficar com o controle do grupo Varig será injetado na companhia aérea. Ficou acertado no contrato que, logo depois de receber o pagamento, a fundação fará um empréstimo à Varig. A informação é do presidente do conselho de curadores da FRB, Cesar Curi. De acordo com ele, isso já acertado com relação à primeira das dez parcelas anuais. Mas poderá se estender a todas. "Se a Varig precisar, a fundação emprestará os recursos das demais parcelas também", explicou. Segundo ele, fica a critério de Tanure identificar se a Varig precisa do dinheiro. Em caso positivo, o controlador da Docas poderá antecipar parcelas futuras do pagamento à FRB, que seriam repassadas à Varig. "Agora que eles assumiram a empresa é que estão avaliando a necessidade de caixa." Pelo que ficou acertado no contrato, portanto, o dinheiro que sairia da Docas para a FRB a título de pagamento pelas ações, vai para a Varig, que agora está sob a gestão da própria Docas.

De acordo com Curi, as condições dos empréstimos serão "de mercado".

No total, a Docas prometeu pagar US$ 112 milhões para assumir 67% das ações votantes da FRB-Par, empresa de participações da fundação e que controla todas as empresas do grupo Varig. Mas uma parte das ações será vendida e outra parte cedida em usufruto. Esse mecanismo de empréstimo entre a FRB e a Varig só vale para os US$ 100 milhões que correspondem ao pagamento pela compra de 25% das ações com direito a voto da FRB-Par. Não se aplica aos US$ 12 milhões que seriam dados pelo usufruto por dez anos de outros 42% das ações com direito a voto. No caso da primeira das dez parcelas de US$ 11,2 milhões, US$ 10 milhões vão para o caixa da Varig e US$ 1,2 milhão ficam com a fundação. De acordo com Curi, a fundação ainda vai resolver o que fazer com esse dinheiro que efetivamente ficará em suas mãos. "As pessoas, os funcionários, estão precisando de motivação e vamos usar o dinheiro para isso", disse ele. Circulou ontem entre alguns credores a informação de que, diferentemente do que havia sido divulgado na véspera pela Docas Investimentos, a primeira parcela ainda não havia sido depositada. E que seu desembolso estaria condicionado à aprovação pelos credores da Varig do plano de reestruturação que Tanure apresentará no próximo dia 19. Curi disse que não saber se o depósito havia ou não sido feito de fato. Mas ele confirmou que Tanure fixou duas condições para o fechamento do negócio: a aprovação de toda a operação pelo colégio deliberante da fundação e a aprovação, pelos credores da Varig, do plano de recuperação da companhia. O clima entre credores privados ontem ainda era de perplexidade. "Está todo mundo perdido de novo", disse um deles. De acordo com um advogado que representa empresas de leasing, seus clientes "só querem receber os atrasados" e não querem se envolver ou se preocupar em entender qualquer plano de recuperação. A assessoria de imprensa do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) informou que seus dirigentes querem entender todas as implicações da operação antes de se manifestar a respeito. A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, que já havia declarado apoio a Tanure anteriormente, disse que espera que o controlador da Docas atenda a três premissas. "Nós já havíamos dito a ele que queremos a manutenção do nível de emprego, a manutenção do fundo de pensão Aerus e a manutenção de todo o empreendimento, sem a venda de empresas." Baggio disse que a operação de aquisição de 25% das ações votantes da FRB-Par por Tanure "ultrapassou nossas expectativas". Segundo ela, tal formato de operação não havia sido discutido com os sindicatos anteriormente.