Título: Ministério admite possível falha em caso de aftosa no PR
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Agronegócios, p. B12

Crise sanitária

Sob intensa pressão do Congresso, o Ministério da Agricultura abriu a guarda e admitiu ontem que o reconhecimento do foco de febre aftosa no Paraná pode ter sido um "falso positivo" causado por "resíduos de vacinação". A diretora de programas da área animal da Secretaria de Defesa Agropecuária, Tânia de Paula Lyra, revelou que a alta potência das vacinas produzidas no país pode induzir a erro no resultado dos exames sorológicos da doença. "Há problemas com a purificação das vacinas nacionais. Alguns países da América do Sul até já tiraram determinadas vacinas de circulação por causa dessa reação sorológica", afirmou ela durante audiência pública na Câmara. Segundo ela, uma vacina potente aumentaria os antígenos e proteínas não-estruturantes nos animais. As declarações, feitas na presença do secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel, reacenderam a batalha entre o ministério e o Paraná em torno do status sanitário do rebanho local. Apesar de ter anunciado as suspeitas de foco, o Paraná passou a defender a fragilidade do diagnóstico feito pelo governo federal. O ministério reconheceu o foco com base em exames sorológicos sem ter conseguido isolar o vírus em seus laboratórios. Os deputados, que criaram uma "mini CPI" para investigar as divergências de diagnósticos, captaram a escorregada da diretora recém-empossada e passaram a acusar o ministério de ter admitido a aftosa no Paraná apenas para atender às pressões da União Européia. "Está claro. Senão, eles embargavam a carne do país inteiro", afirmou Waldemir Moka (PMDB-MS). "Não podemos aceitar uma prova que não é definitiva", defendeu Cezar Silvestri (PPS-PR), relator da "mini CPI". As viagens de missões brasileiras marcadas para a UE e para Rússia foram adiadas. A hipótese admitida por Tânia Lyra também expôs as divergências internas do ministério. O coordenador-geral de combate à doenças, Jamil Gomes de Souza, rebateu a colega. "A reatividade teria de ser baixíssima porque os animais foram vacinados em maio e, as amostras, colhidas em outubro". As suspeitas da diretora foram reforçadas pelo patologista Raimundo Tostes, que acompanhou alguns animais com sintomas da doença em Maringá (PR). Segundo ele, as lesões identificadas naquele rebanho não foram provocadas pela aftosa. "Há um deliberado interesse em não revelar a verdade", disse. As lesões decorreram do processo de estresse gerado no transporte e no próprio leilão do gado em Londrina. "A rigor, não existiam sintomas clínicos nos animais. Se a vacina não é purificada, os testes são questionáveis". Tostes disse estranhar que no Mato Grosso do Sul tenha sido identificado um tipo de vírus que não apareceu no Paraná. "É improvável a ocorrência de mudanças nas características do vírus", disse. Na mesma linha de ataques ao ministério, o virologista Amauri Alfieri, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), sugeriu ter havido uma confusão no diagnóstico da doença. "Houve precipitação. Não dava para afirmar que era aftosa", disse. Alfieri afirmou que, segundo pesquisas científicas, cerca de 13,5% dos animais vacinados teriam de apresentar resultado positivos no tipo de teste realizado.