Título: Mercados: Intensifica-se aposta de Selic a 17,75%
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2005, Finanças, p. C2

Na véspera do anúncio pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central da taxa Selic de encerramento do ano, cresceram assustadora e inesperadamente as apostas de que poderá ampliar o corte do juro para 0,75 ponto percentual. Ao invés da taxa de 18% amplamente prognosticada até segunda-feira, o mercado se preparou ontem para a divulgação no início da noite de hoje de uma Selic de 17,75% . Essa suspeita provocou um atropelo de apostas no final do pregão futuro de juros da BM & F. O vencimento mais curto, marcado para virada do ano e que tem a missão de antever a decisão do Copom, foi alvo de giro recorde absoluto. Sozinho, negociou 974 mil contratos, 21 vezes a mais do que o movimento de 45,5 mil ocorrido na segunda-feira. E a correria se deu no limiar do fechamento do pregão. Um pouco antes do encerramento, os dados preliminares apontavam giro de 620 mil contratos e, meia-hora depois, de 974 mil, o equivalente a R$ 96,6 bilhões. O CDI previsto para o fim do mês recuou de 17,98% para 17,94%. As instituições que vinham apostando maciçamente na hipótese de o Copom manter por mais um mês o ritmo conservador de queda de meio ponto percentual fecharam negócios de última hora precavendo-se contra a possibilidade de ele ser um pouco menos ortodoxo. Na linguagem dos operadores, trata-se de uma " opção barata " : se o BC sustentar corte de meio ponto, com a Selic baixando para 18%, perde-se pouco, mas se ampliar a redução para 0,75 ponto, ganha-se muito. As chances de o BC aproveitar o atual momento auspicioso para não protelar para janeiro a intensificação do afrouxamento monetário aumentaram ontem em função de duas notícias muito positivas para o país, ambas com o mesmo resultado: a ampliação do fluxo de dólares em direção ao Brasil. A primeira foi a decisão de quitar a dívida brasileira junto ao FMI. Ao reduzir a vulnerabilidade externa e melhorar fundamentos, ela atrai investidores mais qualificados para o mercado nacional. A segunda foi a remoção do comunicado pós-reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed) da expressão que vinha sinalizando, há meses, a sua intenção de prosseguir elevando o juro básico americano. Na reunião de ontem, o Fed aumentou a taxa em 0,25 ponto, para 4,25%. Foi a 13ª alta em seqüência, mas ao retirar a sinalização automática de aperto persistente - contida na frase " a política monetária acomodatícia será removida em um ritmo comedido " - indicou que pode fazer mais um aumento do juro, na reunião de 31 de janeiro (a última a ser presidida por Alan Greenspan) e parar de elevá-lo quando chegar a 4,50%. Essa percepção provocou euforia nos mercados sujeitos a risco. As bolsas de Nova York fecharam com ótimas altas. O Dow Jones evoluiu 0,56% e o Nasdaq 0,18%. A Bovespa fechou com valorização de 1,36%, com o índice estabelecendo novo recorde histórico, a 33.419 pontos. E o risco Brasil desceu para degrau inédito historicamente, 308 pontos-base, baixa de 2,53%. Se todos os sinais são de que o fluxo de dólares tende a se magnificar, o auxílio antiinflacionário oferecido pelo câmbio ficará mais importante. No momento em que o BC quiser fazer uso dessa tropa de choque cambial contra a inflação, basta a ele suavizar suas intervenções. Dada essa possibilidade, o Copom pode perder o receio de ampliar os cortes da Selic. O mercado acredita que se o BC não se tornar menos ortodoxo em sua política de juros terá de aumentar as suas compras diárias de dólares, feitas tanto no mercado à vista quanto no futuro, como decorrência da antecipação do pagamento ao FMI quanto da interrupção do aperto monetário americano. Uma prova disso já foi dada ontem. Ele atuou pesadamente nos dois segmentos para evitar que o dólar interrompesse o movimento de alta iniciado na quarta-feira da semana passada. E conseguiu. A moeda, na quinta alta consecutiva, encerrou o dia a R$ 2,2660, evolução de 0,26%.