Título: Negócios de Tanure apóiam-se em boas relações políticas
Autor: Janaina Vilella e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Brasil, p. A6

O sucesso que o empresário Nelson Tanure tem obtido nas operações de aquisição de empresas endividadas, as quais ele assume deixando para trás seus passivos fiscais, trabalhistas e contratuais, vem sendo construído por meio de uma rede de relações políticas que ele cultiva e cujas teias se estendem por quase todos os partidos. Tanure é bem relacionado também com o Poder Judiciário, em Brasília e nos Estados. Periodicamente são publicadas notícias sobre a interferência de políticos nas demandas do empresário, que retribui atuando para ajudar parlamentares em momentos de dificuldades. Exemplar é o caso do processo de cassação do ex-deputado José Dirceu (PT-SP). Segundo apurou o Valor, Tanure e um de seus principais executivos, Paulo Marinho, telefonaram para deputados em favor de José Dirceu, no dia da sessão que cassou o mandato do ex-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Argumentavam que Dirceu era "um grande brasileiro" que não podia ficar fora da Câmara dos Deputados, de acordo com o testemunho de um dos deputados sondados pelos empresários. O curioso é que José Dirceu, enquanto esteve na Casa Civil, se opunha à negociação da Varig com Nelson Tanure. A explicação para a entrada do empresário na operação para salvar o mandato de Dirceu: ele fora acionado pelo ex-presidente da República e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que efetivamente operou nos bastidores para evitar a cassação. Sarney talvez seja atualmente o político mais próximo de Tanure - uma amizade que é pública. Em 2003, por exemplo, Sarney abriu as portas da residência oficial da presidência do Senado para uma recepção em homenagem a Tanure. Entre os convidados estavam outros políticos das relações pessoais do empresário, como os senadores Gilberto Mestrinho (PMDB-AM) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), próximo a Tanure desde que ele dava os primeiros passos nos negócios, na Bahia. Presente, também, o hoje presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal, ministro, aliás, por indicação de Sarney. Tanure devolveu a gentileza com uma recepção, em São Paulo, para Sarney e os ex-presidentes Julio Sanguinetti, do Uruguai, e Raul Alfonsín, da Argentina. Uma das demandas de Tanure em que aparecem digitais políticas é a venda de ações do empresário do antigo Banco Boa Vista, à época em que estava sendo comprado pelo Bradesco. Na contenda, o senador Antonio Carlos Magalhães teria atuado para pacificar as partes em disputa. Tanure quase inviabiliza o negócio. A relação de amigos de Tanure inclui ainda o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que aparece até como testemunha de defesa em um processo judicial movido pelo empresário contra jornalistas. As relações de Tanure com políticos do Norte tem sua matriz na época em que o ele atuou na região no setor elétrico. O empresário também estabeleceu boas relações com o vice-presidente José Alencar e familiares. O vice-presidente, segundo versão corrente no Congresso e no Palácio do Planalto, se empenhou em favor de Tanure na operação de aquisição da Varig - havia outras propostas sobre a mesa. O argumento de Alencar tem raízes nacionalistas: com Tanure, a empresa ficaria em mãos de brasileiros.