Título: Aliados exigem mudança na economia
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Política, p. A8

Crise PSB e PCdoB também pedem apoio do PT ao fim da verticalização, que dificulta suas alianças estaduais

A pressão por mudanças na política econômica do governo Lula vem agora dos partidos aliados. Ontem, durante reunião com o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), os dirigentes do PSB e do PCdoB defenderam a adoção de um novo rumo para a economia. As mudanças não seriam imediatas, mas deveriam constar do programa dos partidos que vão apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Os dois partidos exigiram também do PT apoio ao fim da verticalização, regra que impede que os partidos com candidatos próprios à Presidência se coliguem nos Estados. No encontro, o novo presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), sugeriu a fixação de metas para o crescimento da economia e a geração de emprego. "É possível, sem nenhum tipo de irresponsabilidade, eleitoralismo e populismo, garantir para o Brasil um ciclo de crescimento maior que o atual", disse ele. Campos, que foi ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula e sempre apoiou a política econômica, disse que essa política não é a do PSB nem muito menos a de Lula. Ela foi adotada, sustentou ele, por causa das circunstâncias em que o presidente encontrou o país. "Quando apoiamos Lula em 2002, sabíamos dos balizamentos da Carta aos Brasileiros e nunca cobramos do presidente compromissos além dos que ele assumiu com a nação. Houve um movimento (na economia) mais conservador que o necessário. Agora, os partidos aliados têm o direito de ir para as eleições com um modelo diferente", ponderou o presidente do PSB, acrescentando que não prega uma mudança radical. "Dentro do contrato previsto na Carta, devemos apresentar um programa mais ousado." O deputado alega que já há espaço para alterações no rumo da política econômica, uma vez que, na sua opinião, o governo Lula "fez o dever de casa" quando reformou a previdência e promoveu um forte ajuste fiscal. "Estamos pagando todos os nossos compromissos. Temos meta para a inflação. Não podemos ter uma para o crescimento?", indagou Campos. Ao deixar o encontro, que aconteceu na sede do PSB em Brasília, Berzoini disse que a visão do PT sobre a conjuntura política e econômica é "parecida" com as do PSB e do PCdoB. O presidente do PT afirmou que o governo pode sinalizar, já em 2006, uma mudança de rumo. "Um salário mínimo maior seria uma sinalização concreta", citou. Na reunião, Campos e Renato Rabello, presidente do PCdoB, pediram apoio ao PT para acabar com a verticalização. A regra prejudica a formação de uma aliança nacional entre os dois partidos e o PT para a reeleição de Lula. Segundo o socialista, dificulta também o cumprimento, pelo PSB e o PC do B, da cláusula de barreira. Por essa cláusula, cada partido deve alcançar em 2006 pelo menos 5% do total de votos em nove Estados. Berzoini concordou com o pleito dos aliados, mas mencionou as dificuldades para mudar a regra, uma vez que a Executiva Nacional do PT fechou questão por sua manutenção. "No PT, há uma visão conceitual distante da realidade política", observou o deputado. Um assunto abordado pelos petistas na reunião - as alianças nos Estados - provocou constrangimento. O tema é caro aos aliados, na medida em que, no passado, o PT deixou de apoiar candidatos dos dois partidos nos Estados para impor seus próprios candidatos. O assunto é ainda mais delicado neste momento porque Eduardo Campos é o candidato natural do PSB ao governo de Pernambuco, onde o PT também já tem um pré-candidato - o ex-ministro da Saúde Humberto Costa. Berzoini e um assessor abordaram o tema das alianças regionais, informando que o PT teria candidatos a governador em 19 dos 27 Estados. Campos interrompeu a conversa, dizendo que este não é o momento de discutir essas alianças. "Não vamos entrar no debate eleitoral com o PT a essa altura. Vamos debater primeiro um programa para saber se faremos uma aliança nacional", observou o dirigente do PSB.