Título: PT teme entrar tarde demais na disputa
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Política, p. A10

Os resultados negativos da pesquisa CNI/Ibope divulgados ontem acenderam o sinal de alerta no Palácio do Planalto. Apesar de os analistas palacianos acreditarem que seja perfeitamente possível a reversão do quadro, começa a haver uma cobrança mais ativa em relação ao Partido dos Trabalhadores. A avaliação é de que o PSDB, tanto com o prefeito de São Paulo, José Serra, quanto com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o PMDB, especialmente com o secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho, já estão em campanha eleitoral explícita. E que o PT precisa correr para evitar que o presidente Lula entre tarde demais nesta disputa. "O PT precisa descobrir qual o limite para que Lula inicie a campanha sem ferir as regras da ética pública", cobrou um ministro importante do governo. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reconhece que o momento não é dos mais promissores. Admite que é um retrato de momento, que não chega a ser desalentador ao extremo, mas que não traz bons indicadores. Berzoini, contudo, discorda da avaliação de integrantes do Executivo de que falta um planejamento estratégico ao PT. "Estamos iniciando o planejamento da nossa campanha e dos aliados em 2006. Mas não podemos fazer nada em relação ao presidente Lula. Afinal, ele sequer definiu se será ou não candidato", disse Berzoini. O petista lembra que não cabe ao partido definir a agenda e os compromissos do presidente da República. "Não podemos interferir neste processo", reiterou. O ministro da coordenação política, Jaques Wagner, aposta na reversão dos números negativos da pesquisa CNI. O otimismo reside na boa avaliação de Lula nas capitais e o início de uma reação entre as camadas mais ricas e escolarizadas da população. "Estamos melhores nas capitais do que nos grotões. Como os grandes centros tendem a influenciar o interior, esse cenário pode se modificar", acrescentou o ministro, lembrando ainda que 82% dos entrevistados apostam que 2006 será muito bom ou bom. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), considera natural a queda na avaliação positiva do presidente Lula e do governo do PT. "São sete, oito meses de noticiário negativo. Esse bombardeio impede que o governo mostre as coisas positivas que faz". Chinaglia acrescenta, no entanto, que a pesquisa CNI mostra a força e a competitividade de Lula. "Após todo esse tiroteio, só o Serra supera o Lula". A oposição ontem, especialmente o PSDB, era só sorrisos. O secretário-geral do partido, deputado Eduardo Paes (RJ), acha que a população começa a perceber a besteira que fez em 2002, ao eleger Luiz Inácio Lula da Silva. "Colocamos no poder uma camarilha, sem projeto de governo ou país, só de poder". Paes, que tem afinidades políticas com o prefeito de São Paulo, José Serra, não quis comentar o bom desempenho de seu aliado tucano. "Só vamos definir nosso candidato em março ou abril do próximo ano", desconversou. O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), não se surpreendeu com os números da pesquisa CNI/Ibope. "Eles mostram a decepção e a frustração do povo com um governo que não aconteceu", resumiu. (PTL)