Título: Para Ibope, Serra bate Lula nos dois turnos
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Política, p. A10
Eleições Prefeito de São Paulo é o único a bater presidente no 1º turno
A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem mostra que o tucano José Serra terminaria o primeiro turno das eleições presidenciais de 2006 à frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (37% a 31%) e venceria a disputa com folga num eventual segundo turno (48% a 35%). É a primeira vez neste levantamento que o prefeito de São Paulo aparece na frente de Lula, consolidando-se como o único adversário, até o momento, em condições de derrotar o petista no ano que vem. Além da derrota em primeiro turno, Lula consolida uma rota descendente iniciada em novembro de 2004, quando 42% dos entrevistados votavam no petista no primeiro turno, contra 33% que preferiam o tucano. Após 13 meses, Lula apresenta uma queda de 11 pontos percentuais na intenção de voto. "É o percentual mais baixo de toda a série", reconheceu o consultor da CNI, Amauri Teixeira. "Esta é uma simulação feita em dezembro de 2005. Evidentemente, há um longo caminho entre esse levantamento e o dia da eleição", ponderou o diretor de operações da CNI, Marco Antonio Guarita. O Ibope também quis saber, na hipotética nova disputa de segundo turno, quem manteria os votos depositados em 2002. Daqueles que votaram em Lula, 54% permaneceriam fiéis ao petista. Mas 32% migrariam para Serra. Quando a pergunta relacionava-se a Serra, o grau de fidelidade foi maior: 90% dos entrevistados manteriam o voto, contra apenas 5% que mudariam de idéia e votariam em Lula. No levantamento de segundo turno, Lula perderia de Serra em todos os segmentos sociais, inclusive entre os de baixa renda. Dentre a população que recebe até um salário mínimo, Serra tem 49% das intenções de voto, contra 36% de Lula. Na outra ponta da pirâmide - rendimentos maiores que 10 salários mínimos - Serra teria 51% dos votos contra 34% de Lula. Quando a pesquisa é segmentada por região, Lula só bate o adversário tucano no Nordeste -47% a 44%. Em todas as demais áreas, vitória para o prefeito de São Paulo: Norte/Centro Oeste (58% a 29% pró-Serra), Sudeste (44% a 34% pró-Serra) e Sul (60% a 25% pró-Serra). O candidato do PSDB vence Lula nas capitais (44% a 38%), nas periferias (46% a 34%) e no interior (51% a 34%). Nas cidades pequenas, com até 20 mil habitantes, Serra tem 53% das intenções de voto contra 32% do presidente Lula. O resultado mais apertado aparece nos grandes centros (acima de 100 mil habitantes): Serra teria 45% das intenções de voto contra 37% de Lula. A eventual derrota para Serra nas eleições presidenciais de 2006 cristaliza as avaliações negativas tanto do presidente quanto do governo no último levantamento do Ibope deste ano. A pior avaliação do governo aparece na região Norte/Centro Oeste, com 24% de ótimo/bom, 34% de ruim/péssimo e 41% de regular. "O resultado tem influência do agronegócio e pesam, para isso, a alta taxa de juros, o câmbio desvalorizado e os focos de febre aftosa", explicou Amauri Teixeira. Quando a pergunta está relacionada à atuação do presidente Lula, os números apresentam uma pequena variação, desfavorável ao petista. Os piores índices aparecem entre os mais instruídos, com nível superior ou mais: 57% de desaprovação e 39% de aprovação. E entre aqueles com maior renda mensal, acima de 10 salários mínimos: 61% de desaprovação contra 36% de aprovação. "A crise política foi preponderante", confirmou Guarita. Dentre as matérias mais lembradas pelos entrevistados, aparecem em primeiro lugar a acusação de que o PT pagaria o mensalão (20%), seguida pelas denúncias de corrupção nos Correios (17%) e pela cassação do ex-ministro e ex-deputado José Dirceu (14%). Para 48% dos entrevistados, a crise vai afetar negativamente a economia, apesar de 66% confessarem que não vão alterar seus hábitos de consumo. Além disso, 33% dos entrevistados acham que uma eventual saída do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, desestabilizaria a economia. "É relevante que 1/3 da população pense desta maneira, mostra o peso que o Palocci ainda tem", apontou Marco Antonio Guarita. Mas não é só a corrupção que ameaça o governo. Todas as áreas específicas do governo aparecem com avaliação negativa: combate à fome e à pobreza (50% contra 46%); programas sociais nas áreas de educação e saúde (48% a 47%); segurança pública (65% a 29%); combate à inflação (54% a 37%); taxa de juros (63% a 25%); combate ao desemprego (62% a 34%) e carga tributária (69% a 23%).