Título: Iraque espera que eleição traga pacificação
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Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Internacional, p. A12

Pela primeira vez desde o fim da ditadura de Saddam Hussein, os iraquianos irão às urnas hoje para escolher um governo legítimo que tentará determinar os rumos do país nos próximos quatro anos. Cerca de 10 milhões de iraquianos estão aptos a votar para a renovação do Parlamento, a quem caberá escolher o novo premiê do país. A data histórica está gerando grande expectativa: se o resultado for visto como justo e o governo eleito como representativo, poderia haver uma chance real de arrefecimento da violência civil que assola o país. Mas se algum setor da sociedade iraquiana permanecer insatisfeita com a votação, há o risco de perda de confiança no processo político e intensificação dos combates - uma má notícia para os EUA. Pesquisas indicam, no entanto, que o pleito de hoje deverá equilibrar mais as distintas forças étnicas do país. A expectativa é que a facção xiita, da atual coalizão, diminua seu poder e que curdos e sunitas (minorias) ganhem mais espaço político. Cerca de 7 mil candidatos concorrem aos 275 assentos. "A questão é: será que os esses grupos serão capazes de trabalhar juntos para o benefício de todos e ir além do das diferenças étnicas?", disse Magnus Ranstorp, analista para o Oriente Médio da Escola Nacional de Defesa da Suécia. Uma das principais questões debatidas nesta eleição é, não surpreendentemente, o que mais falta hoje no Iraque pós-guerra: segurança. Desde a queda de Saddam, em fevereiro de 2003, 30 mil iraquianos e 2.140 militares americanos morreram, segundo os EUA. Os legisladores eleitos deverão então escolher, com uma maioria de dois terços, o presidente do conselho que escolherá o novo primeiro-ministro. O premiê vem do maior bloco no Parlamento. Entre as tarefas do Parlamento estarão as negociações sobre o tempo de permanência das forças estrangeiras no Iraque. A suposta normalização política do Iraque por meio de eleições tem sido uma das condições mencionadas pelo governo americano antes que as 160 mil tropas estrangeiras deixem o país. Muitos americanos dizem que o Iraque se transformou num "segundo Vietnã" para os EUA e condenam a maneira como o presidente George W. Bush conduziu a guerra contra o país. Em pronunciamento ontem, Bush reconheceu que sua decisão de realizar uma intervenção militar no Iraque foi baseada em dados de inteligência que se provaram incorretos, mas voltou a defender a ação. "Saddam era uma ameaça, e o povo americano e o mundo estão mais seguros porque ele não está mais no poder", disse Bush. "Muitas agências de inteligência acreditaram que ele tinha armas de destruição em massa, e é verdade que a informação se provou errada."