Título: Senadores rejeitam CPI para apurar possível cartel
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Agronegócios, p. B16

Carnes Decisão levou em conta a imagem do país no exterior

Os senadores enterraram ontem, sem nenhuma opinião contrária, a proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar denúncias de formação de cartel de frigoríficos na compra de bois. Apesar de admitir a gravidade das provas apresentadas, os parlamentares cederam ao lobby dos frigoríficos e descartaram a CPI em nome da "imagem" da carne brasileira no exterior. "Isso deixaria o mercado nervoso porque ficaríamos vulneráveis lá fora, o que poderia afetar nossa posição nas exportações", resumiu o presidente da Comissão de Agricultura do Senado, Sérgio Guerra (PSDB-PE). Gravação de vídeo divulgada pela imprensa mostrou conversas reservadas do dono do Friboi, José Batista Júnior, sobre a formação de cartel com outras duas empresas. "Não podemos fechar os olhos para esse fato grave. Mas vamos tentar uma solução negociada", afirmou o senador Osmar Dias (PDT-PR). "Se não der, aí vou defender a CPI", completou ele. Os senadores declararam, em debate na comissão, ter preferido os argumentos defendidos pela associação dos exportadores (Abiec) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). "Gente de responsabilidade falou sobre isso. O Pratini de Moraes [presidente da Abiec] e a BM&F argumentaram que o mercado seria inundado de carne", declarou Guerra. Segundo ele, seria "muito ruim" para toda a cadeia produtiva. Alguns senadores, porém, alertaram a comissão. "Será pior não fazer nada diante das irregularidades, passando uma imagem negativa de jogar o assunto para debaixo do tapete", disse a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA). O presidente da Comissão da Agricultura da Câmara, Ronaldo Caiado (PFL-GO), admitiu a morte da CPI mista, mas afirmou que insistirá na criação de uma CPI da Câmara. "Vamos até o fim com essa disposição", anunciou. Ontem mesmo Caiado começou a reunir assinaturas para instalar uma CPI na Câmara por meio de um projeto de resolução. A iniciativa terá que ser aprovada nas comissões de Agricultura, de Constituição e Justiça e, em seguida, ser votada no plenário da Câmara. Esse é o caminho mais curto e evitaria a fila de 32 pedidos de CPIs na Câmara. Mas os ventos não são nada favoráveis. Na melhor das hipóteses, a CPI seria instalada no fim do próximo mês de fevereiro, diz Caiado. Até lá, as denúncias já terão "esfriado", apostam os inimigos da CPI. Os ruralistas precisam, ainda, amarrar acordos políticos com todos os partidos para evitar um boicote da chamada "bancada frigorífica" da Casa, liderada por Vadão Gomes (PP-SP) e Sandro Mabel (PL-GO). Além disso, os senadores voltaram a afirmar que têm o apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) para rejeitar a CPI neste momento. "Eles também acham inoportuna essa CPI", disse. Entretanto, o presidente do Fórum de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, disse não haver posição fechada da entidade contra o assunto. "Vamos esperar. Não tem nada decidido", disse. A CNA patrocina, junto com os deputados, uma denúncia na Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça justamente por formação de cartel dos frigoríficos. O governo, entretanto, parece não apoiar a idéia. "É inadequada porque não vai contribuir. A situação já está difícil, complicada com a aftosa", afirmou o senador Flávio Arns (PT-PR).