Título: Em oito dias, BC pode zerar dívida em dólar
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Finanças, p. C2

A contundência das intervenções cambiais realizadas pelo Banco Central nos últimos seis pregões comprova a escolha do caminho direto para evitar apreciações excessivas do real. A decisão do Copom de repisar o conservadorismo monetário indica que o juro não será usado para dissuadir ingressos de capitais estrangeiros. A opção do BC pelas operações de compra de dólares no mercado à vista e no futuro tem um custo salgado: a ampliação de uma dívida interna em reais muito cara, pois indexada à Selic. Em contrapartida, ao reduzir aceleradamente a dívida doméstica atrelada ao dólar, sinaliza um ano eleitoral de 2006 com potencial especulativo muito mais baixo do que a agitação experimentada em 2002. Pelos cálculos do analista independente Pedro Barbosa, a dívida interna em dólar projetada até 2010 não passa de US$ 4,71 bilhões, um passivo "desprezível". A dívida em títulos (NBC-E, NTN-D e NTN-A) a vencer nos próximos quatro anos alcança US$ 7,31 bilhões. Mas, em swaps cambiais, o BC é credor de US$ 2,6 bilhões. Com os ferozes leilões de venda de swaps cambiais reversos, o BC vem ampliando celeremente a sua posição credora em dólar. A continuar no ritmo diário de US$ 600 milhões, em oito dias úteis o BC irá zerar a dívida em dólar. Ontem o BC vendeu a totalidade dos 12,5 mil contratos reversos oferecidos ao mercado, e retirou US$ 599,6 milhões. E fez mais um leilão de compra de dólares no mercado à vista. Aceitou apenas duas propostas pois os bancos, prestes a zerar suas posições vendidas, não tem muito mais dólares ociosos a entregar. E a moeda experimentou sua sexta alta seguida. Fechou a R$ 2,2810, em valorização de 0,66%. Nos últimos seis pregões acumulou avanço de 4,78%. Mas no acumulado do ano ainda há uma perda de 14,05%. As instituições já acreditam que quando o dólar chegar a R$ 2,30 poderá haver uma trégua destinada a avaliação da futura tendência.

Passivo cambial interno é de US$ 4,7 bi

Com a virtual zeragem do passivo cambial interno, o potencial de especulação cambial reservado a 2006 se deslocará para as posições vendidas carregadas por investidores estrangeiros no mercado futuro de balcão internacional, estimadas em US$ 75 bilhões. O cancelamento parcial desses negócios tem força para provocar fortes altas da moeda. E o BC teria de voltar a vender títulos cambiais, retornando à posição devedora em moeda estrangeira. Isso não ocorrerá enquanto a descida do juro for suave e controlada. E enquanto o mercado externo persistir afogado em liquidez. O mercado futuro de juros da BM&F contrariou ontem a praxe de, em dias de decisão sobre Selic, operar letargicamente. O movimento não foi tão febril quanto na véspera, mas o giro, sobretudo o referente ao contrato mais curto, surpreendeu. O pregão reduziu a projeção de CDI para a virada do mês de 17,94% para 17,88% e negociou R$ 39,2 bilhões. O mercado terá hoje de iniciar a correção do otimismo demonstrado esta semana depois que cresceram as apostas de maior flexibilização monetária.