Título: Irã apoia proposta do Brasil
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 07/05/2010, Mundo, p. 27

Presidente Ahmadinejad teria aceito, a princípio, uma suposta oferta do governo Lula para a troca de urânio. Itamaraty desconversa

Em uma conversa telefônica anteontem, os presidentes Mahmud Ahmadinejad (Irã) e Hugo Chávez (Venezuela) destacaram o protagonismo do Brasil na tentativa de encontrar uma saída para a crise nuclear que envolve o regime islâmico. ¿O essencial das conversações foi a aprovação por parte do presidente iraniano das bases da proposta brasileira¿, destaca a página virtual, que não deu detalhes. Segundo o site, ¿Ahmadinejad anunciou sua aceitação, a princípio¿, da oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, o Itamaraty garantiu à reportagem que até o momento ¿não foram tramitadas propostas¿ pelo governo. ¿O Brasil espera e busca uma solução negociada e pacífica para a questão¿, declarou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, que afirmou não saber a origem da informação. Uma mediação do Brasil representaria uma nova esperança de acordo. As potências ocidentais e o Irã não conseguiram chegar a um consenso sobre o envio de combustível nuclear do Ocidente a Teerã, em troca do urânio levemente enriquecido de Ahamadinejad. O Irã exige que os materiais devem ser trocados simultaneamento e dentro de suas fronteiras. Diretor do Centro de Estudos de Não Proliferação James Martin do Instituto Monterey de Estudos Internacionais, o norte-americano Leonard Spector alertou: ¿O Brasil tem muito pouco a ganhar ao se aproximar do Irã e precisa ser cauteloso, antes de morder a isca¿. Por e-mail, o especialista disse ao Correio que qualquer passo em falso do governo Lula arruinaria o desejo do presidente Barack Obama de fortalecer os laços com Brasília.

Tempo Segundo Spector, predomina em Washington a percepção de que o regime iraniano busca ganhar tempo, ao utilizar o pretexto de solidariedade e amizade com o Brasil para promover conversações infrutíferas. ¿A intenção é avançar no potencial de fabricar armas nucleares, antes que a Organização das Nações Unidas (ONU) imponha sanções¿, observa o analista. Ele defende que o processo de negociação seja rápido e não atrapalhe o cronograma de punições. ¿Qualquer acordo precisa resultar em uma restrição importante do programa nuclear iraniano¿, afirma Spector. Em visita a Teerã, no mês passado, o chanceler Celso Amorim chegou a admitir que o Brasil ¿poderia examinar¿ a possibilidade de ser sede da troca de material nuclear, caso houvesse uma solicitação oficial. Spector questiona a aproximação do Brasil com o Irã. ¿Que interesses os dois países compartilham? Promover o islã radical? Ganhar influência na política do Oriente Médio? Isolar-se do Ocidente? Promover a violação dos direitos humanos? O Brasil tem sido tratado com grande respeito pela comunidade internacional, enquanto o Irã é um pária¿, lembra. Ele prevê que, caso o Brasil alcance em duas semanas um acordo que reprima o programa nuclear iraniano, ¿a comunidade internacional ficará agradecida¿. De acordo com o plano da ONU, as potências ocidentais enviariam barras de combustível nuclear a um reator de Teerã e o Irã se comprometeria a estocar urânio enriquecido a baixo nível. Spector considera a proposta vantajosa. ¿O Irã exportaria a maior parte de seu urânio enriquecido a 5%. Se deixado no país, poderia chegar a 90% de purificação e ser usado em armas.¿