Título: Brasil é exemplo para emergentes, diz Fundo
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Finanças, p. C10

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, deu "parabéns" ao Brasil pela decisão de antecipar o pagamento de US$ 15,5 bilhões da dívida com o Fundo até o final do ano. Rato citou o Brasil como um exemplo a ser seguido por outros emergentes. "O Brasil é um exemplo de que as reformas ortodoxas valem a pena e dão resultados num espaço curto de tempo", disse. O diretor-gerente do FMI lembrou que era ministro da Economia na Espanha e que apoiou o pacote de mais de US$ 30 bilhões ao país, em 2002. Rato não vê risco de o país voltar a entrar em crise no período pré-eleitoral do ano que vem. "Acho que o Brasil provou nos últimos anos com vários governos de diferentes coloração política que a estabilidade macroeconômica e as reformas não são mais uma opção política, mas nacional", disse o diretor-gerente, afirmando também que a economia deve continuar isolada da crise política. O pagamento antecipado da dívida brasileira é visto com alívio em Washington e significa uma aposta bem-sucedida do ex-diretor-gerente Horst Köhler. Com a zeragem do saldo brasileiro, os maiores devedores do FMI são a Turquia e a Argentina (respectivamente, US$ 15,2 bilhões e US$ 10,2 bilhões). A Turquia tem tido relação mais tranqüila com o FMI, mas a Argentina é o maior exemplo do fracasso na década de 90. Numa entrevista convocada ontem para um balanço do ano de 2005, Rato elogiou também o ministro argentino Roberto Lavagna, recém demitido pelo presidente Nestor Kirchner. Sem criticar diretamente a nova ministra, Rato disse que o momento atual "é de uma oportunidade importante para a Argentina" de adotar políticas econômicas "prudentes" que deram resultados em outros países. O FMI está otimista com o crescimento e acredita que o PIB mundial crescerá mais que os 4,3% projetados até agora. "O crescimento foi acima do esperado em alguns países emergentes, como a China", disse o diretor-gerente do Fundo, que afirma que os países emergentes estão "colhendo os frutos" das reformas dos últimos anos, reduzindo a pobreza, por exemplo. Mas Rato lembrou que, até agora, pouco se fez para resolver os desequilíbrios da economia mundial, e que os países deveriam aproveitar o momento de crescimento para fazer as mudanças necessárias. Rato pediu reformas trabalhistas e de abertura comercial na Europa, câmbio mais flexível na China e redução do déficit nos EUA. Rato disse estar preocupado com a rodada de Doha, e afirmou que os acordos bilaterais de livre comércio não substituem o sistema multilateral, e que um recuo a um comércio controlado "seria ainda pior".