Título: Pagamento ao FMI valoriza o país no mercado externo
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Finanças, p. C10

Dívida Zerada Indicadores de solvência melhoram com a antecipação

O mercado internacional recebeu bem a decisão do Brasil de pagar antecipadamente os US$ 15,5 bilhões que ainda deve ao Fundo Monetário Internacional (FMI), e considera que será mais um fator positivo para a elevação da nota brasileira pelas agências de risco de crédito. Executivos responsáveis pela nota brasileira nas agências Fitch e Standard and Poor's são mais cautelosos: elogiaram a decisão, mas afirmam que não é suficiente para um "upgrade" imediato, porque não houve mudança nas reservas internacionais líquidas ou na dívida externa líquida. O diretor da Lehman Brothers, John Welch, diz que a decisão de pagar o FMI foi uma das principais causas da alta de preços do bônus Global 40, que subiu 1,2% entre sexta-feira e ontem. "Embora as reservas líquidas não mudem muita coisa, porque o dinheiro do FMI já era descontado, alguns indicadores de solvência devem melhorar", avalia Welch. O endividamento externo total sobre o PIB, por exemplo, deve cair de 30% para 23%, e a relação entre dívida externa e exportações, de 1,74 para 1,33. Welch não espera um impacto de longo prazo na taxa de câmbio por causa da operação, e acha que a sobrevalorização do real só diminuirá quando houver afrouxamento da política monetária. As agências de risco Fitch Ratings e Standard & Poor's (S&P) também elogiaram a iniciativa brasileira. O diretor da Fitch para ratings soberanos, Roger Scher, diz que pagar a dívida com o Fundo "é uma aplicação prudente das reservas internacionais, por economizar juros". Mas tanto Scher quanto a diretora da S&P, Lisa Schineller, acreditam que a decisão não é suficiente para provocar uma mudança imediata da classificação de risco. Nas três agências de risco, a nota do Brasil está em "perspectiva positiva", ou seja, poderá ser revisada para cima. Na S&P, por exemplo, 73% das perspectivas positivas resultaram em upgrade. "É uma boa medida de gerenciamento da dívida, mas o Brasil ainda tem alguns índices piores do que os da média dos créditos 'BB'", diz Schineller. A executiva afirma que a agência poderia elevar a nota brasileira se houver sinais de melhora na qualidade do superávit primário do país - ou seja, uma redução do engessamento orçamentário, ou desvinculação de receitas -, e uma melhora no perfil da dívida interna, com redução de participação da parcela indexada a juros flutuantes. A S&P continua acreditando que o Brasil precisa manter nos próximos anos altos superávits primários. Para o diretor da Fitch, o que é importante para a agência em termos de capacidade de solvência é a relação entre o total do endividamento e o PIB, além da capacidade de crescimento da economia nos próximos anos e as necessidades de financiamento. A Fitch espera para este ano um crescimento do PIB abaixo de 3% e para o ano que vem, cerca de 3,5%. "É uma taxa de crescimento baixa para um país emergente", diz o diretor da Fitch. Mas o PIB poderia crescer mais de 4% se o país conseguir avançar na aprovação de reformas trabalhista, previdenciária e do orçamento (redução da vinculação de receitas), o que é pouco provável durante o ano eleitoral. O mercado acredita que já há condições imediatas para reduzir as altas taxas de juros reais no Brasil. O diretor da Lehman Brothers, John Welch, diz que a taxa de juros reais em maio, quando terminou o período de alta, estava em 13,54% (considerando expectativa de inflação nos 12 meses seguintes), chegou ao pico de 14,2% em agosto e agora está em 13,3%. "Estamos praticamente no mesmo ponto que estávamos em maio, com condições de base monetária mais apertadas. Há um grande espaço para redução dos juros." Lisa Schineller, da S&P, diz que o Banco Central tem mantido a credibilidade ao manter a política apertada para cumprir as metas de inflação. Diz que a contração do PIB no terceiro trimestre é pontual e não necessariamente a atividade econômica continuará no mesmo nível daqui para frente. Mas a diretora da S&P concorda que a influência dos preços administrados sobre a inflação é um "complicador" que torna a administração das metas de inflação "mais uma arte do que ciência". Scher, da Fitch, diz que a discussão sobre a influência dos preços administrados na inflação é razoável, porque pode provocar uma reação exagerada da política monetária, mas lembra que os números de inflação "cheia" e não de núcleo são os números considerados no debate político. Mas, a longo prazo, Scher acredita que avanços institucionais que aumentem o potencial de crescimento do PIB ajudariam o juro a cair de forma sustentada.