Título: Taxa de investimento recua para 20,4%
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Retração, em relação ao mesmo trimestre de 2004, ajuda a explicar queda do PIB

Os valores nominais do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro divulgados ontem pelo IBGE mostraram que no terceiro trimestre deste ano a taxa de investimento do país ficou em 20,4%. O número ficou 0,5 ponto percentual abaixo dos 20,9% do mesmo período do ano passado, mas mesmo assim é o segundo melhor terceiro trimestre da série de 11 anos divulgada pelo IBGE. A retração reflete o papel negativo que os investimentos tiveram para que o PIB do terceiro trimestre deste ano caísse 1,2% em relação ao trimestre anterior. A taxa de poupança bruta também foi menor que a do mesmo período do ano passado, caindo de 25,4% para 24,3%. A taxa de investimento acumulada nos nove primeiros meses deste ano está em 20,1%, um pouco acima dos 19,6% do mesmo período do ano passado. "Houve uma melhoria, mas ainda é uma taxa que se pode considerar baixa em relação às necessidades do país", disse o economista Estêvão Kopschitz, do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento. De acordo com os dados do IBGE, o valor nominal do PIB no terceiro trimestre deste ano foi de R$ 497,5 bilhões, o que elevou o acumulado do ano a R$ 1,41 trilhão. Os investimentos, representados pela formação bruta de capital fixo, ficaram em R$ 101,7 bilhões no terceiro trimestre e em R$ 284,7 bilhões na soma dos três primeiros trimestre do ano. A expectativa de Kopschitz é que a taxa de investimento de 2005 fique em torno de 20%. A opinião corrente entre os economistas é a de que para crescer a taxas superiores a 4% sem gerar pressões inflacionárias o Brasil precisa investir em torno de 25% do PIB por ano A economista Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, disse que esperava até que a taxa de investimento do período de julho a setembro fosse menor do que a efetivamente apurada, uma vez que em volume havia sido constatada uma queda de 0,9% da formação bruta de capital fixo em relação ao trimestre anterior. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a taxa de investimento do terceiro trimestre e a expectativa de um número em torno de 20% no fechamento do ano, embora represente "apenas um aumento marginal" sobre a taxa de 19,6% do ano passado, já representa um avanço sobre os números do período de 1998 a 2003. No terceiro trimestre de 2003 a taxa havia sido de apenas 17,8%. "O Brasil necessitaria de um esforço maior para que em um médio prazo a sua taxa de investimento alcançasse 25% do PIB, o que seria necessário para um crescimento sustentado de 5% ao ano", diz a análise do Iedi. Para o órgão empresarial, a taxa de poupança, embora menor que a do mesmo período de 2004, demonstra que o Brasil é capaz de gerar recursos necessários a financiar um investimento maior que o atual. Outro ponto importante revelado pelos números que o IBGE divulgou ontem diz respeito à variação dos estoques, apontada por grande parte dos economistas como uma das variáveis que explicam o fato de a economia ter sofrido uma retração de 1,2%, na série com ajuste sazonal, enquanto o consumo das famílias, que representa cerca de 55% do total, cresceu 0,8% na mesma série ajustada. Os números nominais, não ajustados sazonalmente, mostram que a variação de estoques no terceiro trimestre deste ano somou R$ 6,01 bilhões, diante de R$ 13,8 bilhões no trimestre anterior. Embora com todas as ressalvas decorrentes do fato de que os valores não sofreram ajustamento, Rebeca, do BNDES, avalia que eles corroboram a tese de que no período a produção industrial foi menor porque as empresas venderam parte dos estoques acumulados. O número divulgado pelo IBGE deve provocar uma pequena alta na série recente da relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB. Segundo o consultor Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, o Banco Central usava para seus cálculos um PIB nominal de R$ 500,457 bilhões para o terceiro trimestre, um valor um pouco superior ao anunciado pelo instituto. Devido a essa diferença, a relação dívida/PIB deve aumentar 0,1 ponto percentual, afirma ele. Com isso, o indicador de outubro, que fechou em 51,1%, deve ser revisado para 51,2%. Para o fim do ano, o BC projetava 51,5%, com base num crescimento do PIB de 3,4%. Marinis, que projeta expansão da economia de apenas 2,2%, aposta em algo próximo de 52%. Em 2004, o indicador ficou em 51,7%. (Colaborou Sergio Lamucci)