Título: Setor automotivo será o mais prejudicado, diz FGV
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Brasil, p. A6

Os cortes de tarifas industriais da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC) devem ter impactos distintos conforme o setor produtivo. As montadoras podem ser, de longe, as mais prejudicadas. Já calçados, equipamentos eletrônicos e derivados de carne tendem a ganhar com as negociações. Estudo da Fundação Getulio Vargas analisou 57 setores e selecionou os grandes ganhadores e perdedores de possíveis cortes das tarifas industriais. Com base na fórmula suíça, os autores trabalham com três hipóteses de coeficiente: 15, 30 e um misto de 20 para os países em desenvolvimento e 10 para os países ricos. No cenário de abertura mais agressiva da economia, a produção do setor automotivo recua 5,05% e o emprego cai 4,93%. Mesmo nas hipóteses mais conservadoras, a produção e o emprego nesse segmento recuam mais de 4%. Segundo o consultor Allexandro Mori Coelho, esse efeito ocorre porque trata-se do setor mais protegido da economia. A média das tarifas aplicadas pelo Brasil para o setor automotivo está em 30%, perto dos 35% consolidados na OMC. Caso as negociações resultem em corte ambicioso de tarifas, outros seis setores da economia brasileira sofrerão cortes de tarifas superiores - ou bem próximos - a 1%: têxteis, vestuário, outros equipamentos de transporte, metalurgia de metais ferrosos, produtos químicos e móveis. Nas hipóteses mais conservadoras, os impactos para os outros setores, como exceção do automotivo, são inferiores a 1%. Entre os setores que podem se beneficiar da queda das tarifas industriais estão produtos de metais não-ferrosos, transporte marítimo, equipamentos eletrônicos, derivados de carne e produtos de couro e calçados. O setor calçadista é muito protegido em vários países do mundo, inclusive no Brasil. O estudo da FGV aponta, no entanto, que o aumento das exportações de calçados brasileiros, que será provocado pela queda de tarifas nos mercados importadores, compensaria as perdas no mercado interno. "O calçado brasileiro é competitivo", diz Coelho. O setor de equipamentos eletrônicos também deve se beneficiar de uma eventual abertura, porque importa grande quantidade de insumos. Com os insumos mais baratos, aumenta o consumo interno dos produtos, ressaltam os professores da FGV Samir Cury e Sergio Goldbaum. Os fabricantes de derivados de carne podem ganhar com a queda das tarifas industriais. O estudo da FGV não leva em consideração nenhuma mudança nas tarifas de produtos agrícolas, mas os frigoríficos ganhariam porque suas vendas devem aumentar no mercado interno, por conta da queda de preços. (RL)