Título: Brasil e China alinhavam acordo têxtil em Hong Kong
Autor: Assis Moreira e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Brasil, p. A7

Relações externas Entendimento entre os países envolve restrição voluntária de importação de oito produtos

O Brasil e a China alinhavaram ontem o acordo pelo qual Pequim aceita restringir voluntariamente dois terços de suas exportações de têxteis e vestuário para o mercado brasileiro até 2008. "O acordo está bem encaminhado", afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, após quase duas horas de negociação com o ministro chinês de comércio, Bo Xilai, a margem da conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC). Furlan aguarda para às 19h de hoje a resposta dos chineses a uma mudança no texto do acordo. Se não houver sinalização, as negociações continuam em janeiro em Pequim. Pelo entendimento, o Brasil limita o crescimento anual médio entre 8% e 17% para a entrada de oito grupos de produtos chineses no período 2006-2008, segundo assessores do ministro. A lista esta composta por tecidos sintéticos, fios de poliéster texturizados, tecidos de seda, veludo, suéter e pulôver, bordados e camisas de malha. Os chineses podem aumentar a exportação desses dois últimos produtos, entre 12,5% e 25% até 2008. Mas o ministro nota que a importação de bordados, por exemplo, é pouco significativa. "O acordo dá proteção necessária para a indústria têxtil nacional se expandir, investindo e criando empregos", avalia o ministro. Em troca do freio nas exportações, Pequim pedia para o Brasil se comprometer a não aplicar sobre todos os outros produtos uma salvaguarda especial que dura até 2013. O ministro disse não, e sugeriu um parágrafo, no acordo, pelo qual o Brasil promete esgotar todas as chances de negociação antes de adotar qualquer barreira. "Não abrimos mão de aplicar salvaguardas", disse ele. "Todos os processos com pedidos de salvaguarda serão examinados". Em defesa do direito a salvaguardas, Furlan argumentou com os chineses que era uma cautela necessária. "Mesmo tendo certeza de que o avião de volta ao Brasil não vai cair, a comitiva brasileira não deixou de fazer seguro de viagem", exemplificou. Segundo o ministro, Bo Xilai aceitou o principio de que o Brasil vai privilegiar o caminho da negociação, como agora. O ministro chinês anunciou então que chamaria uma equipe técnica vir ainda ontem de Pequim para Hong Kong. Mas uma surpresa aguardava Furlan horas depois, no retorno do jantar: uma carta de sete páginas da Associação Brasileira das Industria Têxtil (Abit) chegou após a reunião com Bo Xilai, sugerindo, inclusive novo rascunho de acordo. Após ler atentamente o documento, nesta madrugada, a equipe de Furlan concluiu que as demandas do setor privado estavam cobertas pelo acordo esboçado com os chineses. O MDIC calcula que a expansão autorizada para os chineses ficou não mais que 5% a 6% acima do limite sugerido pela indústria brasileira. Para o ministro, uma das diferenças com relação aos acordos feitos pela China com os Estados Unidos e a União Européia é que o controle será feito pelo lado brasileiro. O objetivo é evitar o que aconteceu com a UE, que deixou o controle para os chineses. Foi preciso ajustar o acordo logo depois, porque muitos produtos não estavam sujeitos à licença de importação, e os europeus não conseguiram evitar uma grande invasão de mercadorias chinesas. Pela restrição voluntária, a China poderá expandir suas vendas mais do que se estivesse sujeita à salvaguarda especial têxtil. Com a salvaguarda, suas exportações só podiam crescer 7,5% anualmente. A vantagem do acordo de restrição voluntária, segundo Furlan, é dar resultado imediato. O ministro chinês comemorou a triplicação do comércio bilateral em três anos. A velocidade do crescimento das trocas Brasil-China está acima de 40%, maior do que no comércio tanto de um como de outro com o resto do mundo. O Brasil é agora o 11º maior parceiro comercial dos chineses e os dois lados vêem grande potencial para explorar. Furlan calcula que o Brasil terminará o ano com superávit de US$ 1 bilhão no comércio com a China.