Título: "Este país é dono do seu nariz", diz Lula
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Brasil, p. A8

Desenvolvimento Para presidente, pagamento da dívida com o FMI é prova do bom momento da economia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou, ontem, durante almoço com os comandantes militares em um clube de Brasília, a antecipação da quitação do débito do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), graças ao pagamento de US$ 15,5 bilhões, como mais uma prova do bom momento vivido pelo país no cenário econômico. O presidente declarou que os recursos haviam sido tomados durante o governo anterior para resolver o problema de déficit na balança comercial. "Devolvemos para dizer ao mundo e para dizer ao mercado: este país tem governo, este país é dono do seu nariz e nós queremos errar e acertar, mas pela nossa própria cabeça, pela nossa consciência, pelas nossas tomadas de posição", afirmou o presidente. Lula reforçou que, no ano passado, "possivelmente sem fazer o barulho necessário para que houvesse destaque no país", o governo tomou a decisão de não renovar o acordo com o FMI. "Parecia improvável, parecia impossível que o Brasil, em tão pouco tempo, pudesse tomar uma decisão de não querer repetir o acordo com o FMI.". O presidente destacou um fato que considerou inusitado: o Fundo queria que o Brasil continuasse com o acordo. "O FMI queria porque, simbolicamente, era importante dizer ao mundo que o Brasil mantinha um acordo com o Fundo", disse o presidente. Segundo Lula, o Brasil encontra-se numa situação privilegiada de reservas, consolidado em suas reservas internacionais, o que permite ao país financiar suas importações sem precisar de nenhum aporte do Fundo Monetário ou de qualquer outro organismo internacional. "E por que isso é importante? É importante porque nós precisamos transformar o ano que vem no ano do crescimento no país", destacou. Lula acrescentou que "a combinação mais perfeita de crescimento econômico com distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida das pessoas é o que está faltando ao Brasil há muito tempo". Lula disse que, ao se queixar, as pessoas "esquecem ou não querem se lembrar" de que o Brasil vem de 20 anos de estagnação completa ou de crescimento abaixo da mediocridade. "O Brasil, agora, está pronto para dar o próximo salto de qualidade. Volto a repetir: se o governo não for pequeno e não permitir que as eleições de 2006 façam com que cometamos os erros que já foram cometidos em tantos momentos históricos de nosso país em que nós deixamos as oportunidades caírem e ficamos com o prejuízo depois", cobrou o presidente. Diante dos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, além dos oficiais-generais de cada uma das Forças, Lula aproveitou para defender o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. No final de semana, uma revista publicou reportagem acusando Alencar, crítico contumaz das taxas de juros, de ter obtidos empréstimos privilegiados para a sua empresa, a Coteminas. "Mais do que uma infâmia, é tentar passar para a sociedade a idéia de que ele não é o que ele é. A Coteminas, como qualquer empresa brasileira, tem direito a ter acesso aos créditos que todas as empresas têm, sem que isso signifique um favor", disse Lula. Para o presidente, um homem que construiu a história que o José Alencar construiu "merecia, mesmo daqueles que se consideram inimigos dele, respeito, porque o Brasil não produz pessoas dessa magnitude todo o ano, todo o século ou toda década". O presidente Lula, que optou pelo improviso ao invés do discurso falado, para ter uma "conversa mais cordial, mais amiga, mais de coração do que da razão", afirmou que, nesses seis meses, está enfrentando uma "saraivada de críticas, acusações e infâmias". Disse que defende as investigações e que jamais as cercearia para se fazer de vítima. "Que se investigue tudo, porque o Brasil está precisando disso. Aquilo que for verdade vai aparecer como verdade, aquilo que for mentira, vai aparecer como mentira e um belo dia, o povo brasileiro saberá fazer juízo de valor." O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou, ontem, a 27 instituições, personalidades e prefeituras o Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Brasil. Criado pelo governo federal, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade, o prêmio tem por objetivo dar visibilidade a ações que se destacaram na promoção dos direitos humanos, inclusão social e cidadania. Os Objetivos do Milênio devem ser alcançados até 2015, segundo acordo assinado em 2000. São oito os objetivos: erradicar a pobreza e a fome; levar o ensino fundamental para todas as crianças; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir o índice de mortes entre as crianças; melhorar a saúde materna; combater o vírus da Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. (Com Agência Brasil)