Título: Procurador-geral tenta concluir inquérito antes da campanha eleitoral
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Política, p. A11

O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, quer concluir o inquérito do "mensalão" antes do período eleitoral do ano que vem. Em conversa com jornalistas em seu gabinete, Antonio Fernando explicou que não pauta as suas ações pelo calendário político, mas revelou a intenção de evitar que a conclusão do inquérito coincida com o período eleitoral. "Espero que possa tomar uma decisão antes do processo eleitoral mais intenso", disse o procurador-geral. Segundo ele, a existência de um procedimento envolvendo políticos de vários partidos num ano eleitoral "causa uma expectativa maior". "E não há como excluir a possibilidade de que o encaminhamento (do inquérito) não tenha efeito no processo eleitoral", continuou o procurador-geral. Antonio Fernando está atuando todos os dias no inquérito do "mensalão". Discreto, evita falar sobre as linhas da investigação. Também não revela nomes de suspeitos e se exime até de citar os partidos envolvidos. O procurador-geral está analisando denúncias de caixa 2 "em vários partidos". Segundo ele, houve um descompasso entre a contabilidade dos partidos e a movimentação financeira apresentada à Justiça Eleitoral nas últimas eleições gerais, em 2002. A investigação está, no momento, na Receita Federal. Ele revelou que até o momento não está investigando a pessoa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas evitou comentar se as investigações sobre caixa 2 estão envolvendo diretamente a campanha do presidente, em 2002. "Em todas as prestações de contas dos partidos existem irregularidades", generalizou, ao ser questionado especificamente sobre o presidente. Neste momento da entrevista, Antonio Fernando falou da possibilidade de preclusão, ou seja, de as investigações serem arquivadas pelo transcorrer do prazo legal para que os suspeitos sejam condenados. A preclusão, na Justiça Eleitoral, é de cinco anos. "É preciso ter em conta que o processo eleitoral é baseado nas preclusões. Os fatos ou são resolvidos naquele momento ou eles precluem." O procurador-geral reiterou que não vê motivos para a prisão do publicitário Marcos Valério, como quer a CPI dos Correios. Para ele, Valério não está dificultando as investigações. "É preciso que a prisão se revele um elemento necessário à investigação no momento determinado", explicou. E isso, segundo Antonio Fernando, não está acontecendo.