Título: Crise teria efeito restrito no Brasil
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Fonte: Valor Econômico, 03/01/2006, Internacional, p. A7
Mesmo que a Rússia não cumpra a sua promessa de normalização do envio de gás, uma eventual ruptura no fornecimento na Europa teria efeito restrito no Brasil. Segundo analistas, não há riscos de problemas no fornecimento, mas o país poderia sofrer com aumento do preço do gás importado. Diferente de outras commodities, não existe propriamente um mercado internacional de gás. A maioria dos contratos é fechada por meio de acordos bilaterais. No caso do Brasil, que importa cerca de 28 milhões de metros cúbicos por dia, o contrato fechado com a Bolívia prevê reajustes a cada três meses com base nos preços praticados no mercado internacional de uma cesta de óleos. Se a disputa entre Rússia e Ucrânia resultar numa crise de fornecimento de gás na Europa, existe a hipótese de substituição do produto pelo óleo combustível. Nesse caso, os preços seriam pressionados e o reajuste previsto no contrato com a Bolívia seria maior. O gás boliviano abastece as distribuidoras da região Sul e dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Mas esta hipótese seria um cenário grave pois exigiria a adaptação de equipamentos residenciais e industriais ao óleo combustível, além de significar a opção por um combustível mais poluente. Analistas avaliam a briga pelo preço como uma discussão política que ganha fôlego em razão do perfil do mercado de gás. "A questão do território é fundamental. Existem limitações geográficas e a maior parte do transporte é feita por gasoduto", diz o professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, Helder Queiroz. Existe ainda o transporte por navios metaneiros de gás natural liquefeito, mas comparado ao gasoduto ainda é uma alternativa cara. Segundo Rafael Schechtman, diretor do CBIE, esta opção tem crescido bastante entre os grandes consumidores. Nos últimos anos, a demanda européia pelo gás da Rússia cresceu muito. Analistas estimam que antes mesmo da crise, os europeus já pagavam o dobro do que o Brasil paga pela importação de gás. A Petrobras informou que não comenta informações contratuais. Para Queiroz, a briga entre Rússia e Ucrânia representa um momento de custo de oportunidade para grandes produtores. Países como Holanda e Noruega, que exportam gás, podem ser beneficiados. "Esses países passarão a vender no limite de sua produção, mas isso não seria bom nem mesmo para a Gazprom, que tem na Europa seu maior mercado", disse.