Título: Sob pressão da UE, Rússia normalizará envio de gás
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2006, Internacional, p. A7

Energia Ruptura no fornecimento chegou a 35% em alguns países do bloco

Sob pressão da União Européia, a Rússia prometeu normalizar na noite de ontem o envio de gás natural pelo gasoduto que passa pela Ucrânia. O impasse entre os dois países quanto ao preço da commodity levou a uma ruptura no fornecimento aos países da UE que chegou a 35% em alguns casos. A promessa de normalizar a situação veio após a Alemanha ter dito que o caso poderia comprometer a credibilidade de Moscou como fornecedor de energia para a Europa. O impasse teve início quando os russos resolveram mais do que quadruplicar o preço do gás fornecido à Ucrânia. Os ucranianos pagavam antes um valor subsidiado por dar passagem ao gasoduto russo que vai em direção aos países da UE. Como um acordo não foi alcançado, Moscou diminuiu em 20% a quantidade de gás que enviava - o volume equivalente das importações ucranianas -, mas os russos dizem que Kiev teria continuado a retirar sua cota, o que diminuiu o fluxo para a UE. O caso ocorre num momento politicamente sensível para a Rússia, que assumiu a presidência rotativa do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a própria Rússia). O fornecimento de gás russo à Itália caiu 24%, segundo a Eni, maior distribuidora do país. A Gaz de France, quarta maior distribuidora do mundo, disse que o fornecimento da Rússia caiu de 25% a 30%. A Rússia responde por 30% do consumo de gás na Alemanha, 25% na Itália e de 20% a 25% na França, de acordo com uma estimativa do BNP Paribas. Os países mais afetados foram os ex-satélites soviéticos na Europa Oriental. Na Hungria, o governo disse que o fornecimento chegou a uma queda de 57%, se estabilizando num patamar de 30% a 35% menor do que o normal, segundo a distribuidora húngara MOL. Polônia, Eslováquia e República Tcheca também anotaram rupturas significativas. Um executivo da Gazprom, empresa que tem o monopólio russo de gás, acusou a Ucrânia de retirar 100 milhões de metros cúbicos de gás que eram destinados aos consumidores europeus. O vice-presidente da empresa, Alexander Medvedev, disse ter contratado uma empresa internacional para monitorar o fluxo de gás que passa pela Ucrânia. O ministro da Energia da Ucrânia, Ivan Plachkov, negou as acusações: "Não houve nenhuma retirada não-autorizada de gás". As relações entre Rússia e Ucrânia se deterioraram muito desde que o candidato apoiado pelos russos perdeu a eleição presidencial para Viktor Yushchenko. O presidente adotou medidas de aproximação com a Europa Ocidental. Pode haver ainda outras razões para que a Rússia exija preços tão altos da Ucrânia: seria um modo de forçar Kiev a aceitar um acordo para dividir o controle do gasoduto que passa por seu território - assim como fez Belarus. Para um país que que aumentar suas exportações de gás para a Europa, como a Rússia muito quer, o controle conjunto pode ser um prêmio importante. Há precedentes para essa manobra. Após um aumento de preços para o gás que vai para a Geórgia, a Gazprom passou a oferecer um preço fixo pelo período de dez anos em troca de um acordo para formar uma joint venture para operar e desenvolver o sistema de transporte de gás natural na Geórgia.