Título: Safra, câmbio e diversidade ajudam balança em 2006
Autor: Raquel Landim e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2006, Especial, p. A10

O governo brasileiro projetou ontem que as exportações do país devem atingir US$ 132 bilhões em 2006, alta de 11,6% em relação a 2005. A previsão supera as expectativas das instituições financeiras, que estimam, em média, alta de 6% nas exportações. Mesmo assim, a estimativa representa uma desaceleração significativa no ritmo de crescimento das exportações em um ano eleitoral. Durante o governo Lula, os embarques do país cresceram 21,3% em 2003, 32% em 2004 e 22,6% no ano passado. Segundo o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, as exportações brasileiras devem crescer em todos os setores da economia este ano. Mesmo os embarques de automóveis e calçados, setores que sofreram perda de rentabilidade, prometem resultados levemente positivos. Em conversa com o Valor após a entrevista coletiva para a divulgação da balança de 2005, Furlan disse que as exportações de alguns setores devem aumentar acima da média, alavancando o resultado: açúcar e álcool, café, petróleo e derivados, suco de laranja, máquinas e equipamentos, minério, frutas, couro, veículos de carga e carnes (apesar do embargo da febre aftosa). Com o preço do petróleo nas alturas, o setor de açúcar e álcool acredita que a demanda por etanol deve subir, aumentando as exportações em mais de 20% em 2006. Os embarques de aparelhos celulares também prometem surpreender, crescendo mais de 15%, segundo fontes do setor privado. Furlan reconheceu que a economia mundial deve crescer mais devagar este ano - 3,2% contra 4,3% em 2005 - e prejudicar as exportações brasileiras. Mas justificou seu otimismo para 2006 e disse que a safra agrícola deve aumentar entre 8% e 10%, os preços das commodities devem seguir sustentados e, principalmente, o país está agregando valor aos seus produtos. "Há uma mudança no mix de produtos que ajuda a compensar parte da perda de rentabilidade provocado pelo câmbio", disse o ministro. Ele citou, entre outros, os ônibus exportados, cujo preço médio saltou de US$ 53 mil em 2004 para US$ 104 mil em 2005. Furlan afirmou que a taxa de câmbio deve "se acomodar em um nível superior ao atual" e "ajudar em previsões ainda mais otimistas" em alguns meses. Ele defendeu a reforma da legislação cambial e apoiou a decisão do Banco Central de acabar com o limite de compras de dólares sem remuneração pelos bancos. As exportações brasileiras bateram recorde no ano passado, atingindo US$ 118,3 bilhões, o que significa alta de 22,6% em relação a 2004. O resultado superou a meta do governo de US$ 117 bilhões. No início de 2005, o governo projetava exportações de US$ 108 bilhões, mas reviu a meta duas vezes. O crescimento das exportações supera a alta de 14% do comércio mundial no ano passado, ampliando a fatia do Brasil para 1,1%. As importações também foram recordes, atingindo US$ 73,5 bilhões, mas o ritmo de crescimento decepcionou. As importações aumentaram 17,1% em 2005 ante 2004, abaixo do patamar das exportações, ampliando o saldo da balança para US$ 44,7 bilhões. A corrente de comércio do país atingiu US$ 191 bilhões. "Tivemos um desempenho mais fraco da economia, portanto a demanda por matérias-primas e componentes ficou abaixo do esperado", diz Furlan. O ministro acredita que, em 2006, as importações devem subir mais do que as exportações por conta do maior crescimento. Ele projeta aumento superior a 20% para as importações em 2006, com alta de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB). Furlan admite que um desempenho mais forte das importações pode provocar queda do saldo da balança comercial. "Não temos a preocupação de manter superávit de US$ 45 bilhões. O Brasil não precisa disso", afirmou. Para o ministro, a falta de vigor das importações em 2005 despejou no mercado cerca de US$ 10 bilhões a mais, que deprimiram a taxa de câmbio. As exportações brasileiras de produtos manufaturados totalizaram US$ 65,14 bilhões em 2005, o que significa alta de 23,5% em relação a 2004. As exportações de básicos e semimanufaturados ficaram em US$ 34,7 bilhões e US$ 15,9 bilhões, o que significa alta, respectivamente, de 22,2% e 19,3%. Os setores de combustível e material de transporte foram os que mais contribuíram para a expansão das exportações em 2005. As vendas de petróleo cresceram 58,4%, gerando um acréscimo de divisas de US$ 3,3 bilhões. O setor de material de transporte contribuiu com US$ 3,1 bilhões, com 31,6% de alta em automóveis. As exportações brasileiras cresceram com vigor para os mercados de países em desenvolvimento, com alta de 32,1% para o Mercosul (35% para a Argentina), 27,5% para o restante da América Latina, 27,9% para a Ásia e 41,4% para a África. Para os ricos, foi menor: 10,1% para a União Européia e 12,2% para os Estados Unidos. As importações brasileiras de bens de capital cresceram 27,4% em 2005 ante 2004, o que pode sinalizar maior investimento. Já as compras de matérias-primas para a indústria aumentaram 13,1%, devido o fraco desempenho da economia. As compras de bens de consumo, produtos sensíveis à variação cambial, cresceram 24,2%. As compras de produtos chineses foram destaque com alta de 45%. As exportações do mês de dezembro totalizaram US$ 10,9 bilhões, valor recorde para o período. As importações somaram US$ 6,55 bilhões.(RL)