Título: Crise faz inadimplência com o BB subir para 5%
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2006, Agronegócios, p. B8

A crise da agricultura em 2005 teve como consequência a redução dos investimentos e o aumento da inadimplência em relação a 2004, de acordo com o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil (BB), Ricardo Conceição. Mas Conceição está otimista com 2006 e acredita na recuperação das cotações internacionais de diversos produtos do agronegócio. Além disso, o custeio desta safra contou com uma taxa de câmbio mais favorável que a da safra 2004/05. "Com o câmbio recuperado e os juros caindo, vai dar para o produtor pagar suas contas, incluída a prorrogação de 2005. Passamos por um 'vale' no ano passado, mas vamos dar a volta por cima", afirmou o vice-presidente. Conceição informou que o BB vai liberar, este mês, R$ 2 bilhões para o custeio da safra 2005/2006. Do início de julho do ano passado até o fim de dezembro, o banco financiou R$ 18,071 bilhões para os produtores. Com os recursos aprovados neste mês, a estimativa de liberar um total de R$ 27,1 bilhões nesta safra, até junho, deve ser confirmada. Esse volume supera em R$ 1 bilhão o que foi aplicado pela instituição na safra 2004/2005. Para Conceição, o crescimento da inadimplência dos produtores "não tira o sono". Ele informou que há um grupo de produtores com dificuldades na região Centro-Oeste, o que levou os índices de inadimplência dos tradicionais 2% para algo próximo dos 5% ou R$ 1 bilhão. Essa porcentagem considera todos os tipos de atraso. Segundo Conceição, os produtores do Centro-Oeste reinvestiram o que ganharam em safras anteriores para aumentar a produção em 2004/05, mas muitos não conseguiram quitar seus débitos. Ele explicou que parte dos produtores se financiou no mercado aberto, onde os juros são mais altos, ampliando as dificuldades. O vice-presidente de agronegócios do BB informou também que as "operações vencidas" do banco no Centro-Oeste são aproximadamente metade dos casos de inadimplência do país. A crise também fez a demanda por crédito para investimentos recuar em 2005. Foram R$ 4,1 bilhões contra R$ 4,3 bilhões no ano anterior. Só nas operações com dinheiro repassado pelo Finame do BNDES, foram R$ 1,08 bilhão em 2005. As linhas do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) cresceram 30% sobre o liberado em 2004, atingindo R$ 1,04 bilhão. Segundo o BB, as prorrogações de dívidas em 2005 envolveram R$ 2,3 bilhões, sendo que, desse volume, apenas R$ 200 milhões foram relativos a investimentos. Conceição observou que esse reescalonamento elevou o custo do financiamento, em virtude da entrada de linhas de crédito com taxas livres. O Banco co Brasil destinou, na safra 2005/06, R$ 3,37 bilhões para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o que representa 60% do total previsto para o período (julho de 2005 a junho de 2006).