Título: BC mantém ofensiva e dólar sobe a R$ 2,34
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2006, Finanças, p. C2

Em seu primeiro pregão de 2006, o mercado de câmbio foi distorcido pela falta de liquidez e pelo excesso de incertezas. Estas duas características favorecem a especulação e a volatilidade. O mercado ainda reluta em acreditar nas claras sinalizações do Banco Central em favor de um patamar mais elevado para o dólar. Embora a moeda tenha operado em alta ontem, chegou a fraquejar em alguns momentos, revelando a hesitação das instituições. Mas, após duas vigorosas intervenções do BC, o dólar terminou o dia com valorização de 0,64%, cotado a R$ 2,34. A decisão do BC de eliminar restrições ao carregamento de posições compradas não tem efeito prático nenhum. Manter hoje uma posição comprada equivale a apostar num avanço do dólar superior ao ganho proporcionado pela Selic. É o mesmo que apostar na queda da diretoria do BC. Embora tecnicamente nula como fator de impulsão da moeda, a liberdade concedida aos bancos sinaliza uma predisposição conceitual do BC em prol de uma taxa de câmbio mais elevada. A essa indicação teórica de alta se juntam outras bem mais concretas, e executadas com rigor ontem. O BC ampliou ontem a quantidade de contratos de swaps cambiais reversos oferecida ao mercado. Ao invés dos 8,4 mil ofertados na quinta-feira, último dia útil de 2005, ontem ele se mostrou interessado em passar adiante 8,8 mil. Conseguiu vender quase tudo. Colocou 8,7 mil e retirou US$ 412,5 milhões, quando, no pregão anterior, vendeu 7,9 mil (US$ 375,3 milhões).

Mercado vê espaço exíguo para corte do juro

Uma atuação mais efetividade também foi registrada no segmento à vista. Na quinta-feira, ele aceitou 10 propostas em sua compra direta de dólares. E, ontem, acolheu 19 das 23 propostas formuladas por 16 instituições. Não há dúvida de que o BC quer o dólar para cima, já que foi agressivo em dia de marasmo decorrente dos feriados em Nova York, Londres e Tóquio. Nessa toada, a moeda chegará logo aos R$ 2,40 previstos pelo boletim Focus para ser alcançados somente em dezembro de 2006. Amanhã o BC divulga o fluxo cambial referente a dezembro. O mercado saberá se as pesadas incursões do BC pelo câmbio foram suficientes para reduzir as elevadas posições vendidas carregadas pelos bancos. Até meados do mês passado, a posição vendida ainda era impressionante e desafiadora, de US$ 3,5 bilhões. Para um fluxo positivo de apenas US$ 2,8 bilhões, o BC tinha comprado quase US$ 4 bilhões. A determinação do BC em puxar o dólar para cima malogra as tentativas ensaiadas no mercado futuro de juros da BM&F de ampliar a trajetória de queda do CDI. A depreciação cambial buscada por ele e a austeridade com a qual se imagina irá resistir às pressões por aumento eleitoral de gastos públicos travam movimentos consensuais. Os contratos alternam quedas, estabilidades e altas conforme os diferentes prazos. Enquanto o contrato mais curto, para a virada do mês, recuou 0,01 ponto, para 17,70%, o relativo à virada do ano subiu 0,01 ponto, para 16,40%. O pregão de DI futuro da BM&F não consegue extrair do Focus motivos para inquietações. O cenário pintado para 2006 pelas cem instituições que o alimentam de dados é dos mais tranqüilos. Para um IPCA rigorosamente em cima da meta central de inflação, 4,5%, o mercado estima Selic a 15% no fechamento do ano.