Título: IGP-M sobe 0,4%, com pressões pontuais
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2005, Brasil, p. A3

Preços Alimentos e combustíveis aumentam mais que o esperado, mas a inflação continua comportada

O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) subiu 0,4% em novembro, abaixo do 0,6% do mês anterior, mas um pouco acima do 0,3% previsto pelo mercado, principalmente devido à alta mais forte dos preços agrícolas e dos combustíveis no atacado. As pressões, no entanto, parecem pontuais, e não mudam o cenário favorável para a inflação nos próximos meses. Graças ao câmbio valorizado, os preços industriais continuam tranqüilos, como mostra o núcleo do atacado obtido pela exclusão de alimentos e combustíveis, que registrou queda de 0,17% de novembro, segundo a Rosenberg & Associados. A grande surpresa negativa foi o comportamento do IPA agrícola, que subiu 0,99%, depois de ter recuado 0,81% em outubro. O economista Fernando Fenolio, da Rosenberg, ressalta a disparada de alguns alimentos in natura: o grupo legumes e frutas teve alta de 8,1%, e o de raízes e tubérculos, 15,3%. Fenolio, porém, não se preocupa com o movimento: segundo ele, alguma aceleração dos preços agrícolas no atacado já era esperada, pois haviam recuado nada menos de 11,51% entre maio e outubro. A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, também vê apenas uma pressão pontual. "Os preços dos alimentos in natura são muito voláteis, e podem cair ou parar de subir nos próximos meses", afirma. A cotação do item bovinos também subiu (4,36%) em novembro, mas o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, nota que perdeu força nas últimas semanas - no IGP-10 deste mês, por exemplo, a alta foi de 6,12%. É possível que, nos próximos meses, haja alguma repasse do aumento dos preços agrícolas no atacado para o varejo, mas o movimento não deve ser intenso. Além disso, como afirma Quadros, a alta dos alimentos in natura já ocorre quase simultaneamente no atacado e no varejo. A batata inglesa, por exemplo, subiu 59,23% no atacado e 36,19% para o consumidor. Os preços industriais tiveram uma alta bem mais moderada, de apenas 0,21%, ajudando a derrubar o IPA (peso de 60% no IGP-M) de 0,72%, em outubro, para 0,4%, em novembro. O resultado teria sido ainda melhor não fosse a alta de 1,62% do grupo combustíveis, em grande parte ainda reflexo da alta autorizada no mês passado. É mais uma fonte de pressão que deve perder força daqui para frente. O dólar barato também continua a ajudar, de acordo com Quadros. Fortemente influenciado pelo câmbio, o grupo materiais para manufaturas (que inclui insumos siderúrgicos, químicos e celulose) caiu 0,42%, lembra ele. Tanto Fenolio como Marcela ressaltam também o comportamento tranqüilo do núcleo do atacado, indicando que a tendência da inflação segue comportada. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30% do IGP-M, teve alta de 0,46%, um pouco acima do 0,42% registrado em outubro. Os alimentos, principalmente os in natura, também foram o destaque negativo no caso do IPC, com alta de 0,99%. Em outubro, haviam caído 0,26%. O item vestuário também atrapalhou, com aceleração da inflação de 0,41% para 0,88%. Mais uma vez, pressões pontuais, que não sugerem aceleração da inflação nos próximos meses. A alta de 0,78% registrada neste mês pelo IPCA-15 - indicador que serve como prévia do IPCA, referência para o regime de metas - também se deve a fatores pontuais, como o aumento mais forte dos alimentos. O IGP-M mais salgado em novembro levou Fenolio a revisar para cima sua previsão para o ano, de 1,3% para 1,5%. Mesmo assim, é um número baixo, que continua a apontar para um cenário favorável para os preços administrados no ano que vem - os IGPs corrigem contratos de tarifas públicas, como telefonia e energia elétrica. O IGP-M acumula alta de 1,22% no ano, e de 1,96% em 12 meses. O Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), que equivale a 10% do IGP-M, subiu de 0,28%, em outubro, para 0,29% em novembro. Para Quadros, o cenário para a política monetária continua tranqüilo. E, como deve mostrar o fraco resultado do PIB do terceiro trimestre, a ser divulgado hoje, não há pressão de demanda que justifique preocupação com a inflação.