Título: Indústria programa férias coletivas "normais" em 2005
Autor: Sérgio Bueno, Raquel Salgado e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2005, Brasil, p. A6

Conjuntura Após o acelerado final de 2004, pedidos serão atendidos sem produção extra no fim de ano

Depois de um final de ano acelerado em 2004, a indústria programou um fim de ano normal. As férias coletivas - canceladas, adiadas ou reduzidas no ano passado - vão ser cumpridas normalmente, com poucas exceções. O setor eletroeletrônico instalado na Zona Franca de Manaus - impulsionado pelo crédito - é um dos raros que está com uma programação de produção um pouco acima do normal. No lugar dos 30 dias de férias coletivas, o setor programou 20 dias de paralisação na virada de 2005 para 2006. Fabricantes de calçados, vestuário e móveis, contudo, não vão repetir 2004 e já marcaram de 10 a 25 dias de paralisação total da produção. Fornecedores de autopeças e as próprias montadoras planejam, como tradicionalmente fazem, paralisações de duas a três semanas nesta época do ano. Se não há aquecimento de encomendas capaz de levar à suspensão do benefício, também não há setores concedendo paralisações superiores ao que ocorre todos os anos. O final de 2005, resumem os empresários, está "normal". Carlos Brigagão, presidente da indústria de calçados Sândalo, vai dispensar os funcionários nesse fim de ano. Em 2004, com o mercado aquecido e uma demanda externa forte, a Sândalo suspendeu as férias coletivas para atender todos os pedidos a tempo. Nesse ano, a situação é bem diferente. "Até temos uma boa quantidade de pedidos para esse fim de ano, mas o problema é que eles não sinalizam aquecimento, vieram apenas mais tarde do que de costume", disse. O executivo conta que se arrependeu por não ter parado a produção no final do ano passado. A Calçados Bibi, de Parobé, vai manter sua escala de férias coletivas entre a última semana de dezembro e a primeira de janeiro para os 1,4 mil funcionários nas unidades no Rio Grande do Sul e da Bahia, informa o diretor administrativo-financeiro Rosnei Alfredo da Silva. Segundo ele, as vendas para o mercado interno, que representam quase 70% da produção anual de 3,3 milhões de pares de calçados infantis, "esfriam" a partir de 10 de dezembro e os próximos lotes serão entregues em janeiro. Com 58 funcionários e faturamento de R$ 13 milhões, 8% a mais do que em 2004, a Politorno Móveis, de Bento Gonçalves, vai seguir a "tradição" dos últimos oito anos e parar duas semanas a partir de 21 de dezembro, conta o gerente industrial Cláudio Ramos. As exportações respondem por 30% do faturamento, mas a empresa conseguiu garantir o desempenho deste ano compensando a queda da rentabilidade nos embarques ao exterior com a ampliação das vendas domésticas para o Nordeste. O setor têxtil também não mostra o mesmo entusiasmo do ano passado. De acordo com o Sindicato das Costureiras de São Paulo, Osasco e região, até agora 1.005 empresas já comunicaram a concessão de férias coletivas. Elas reúnem cerca de 50% da categoria de 80 mil costureiras. No ABC paulista boa parte das montadoras vai seguir sua programação normal, parando a fábrica antes do Natal, com retorno no início do próximo ano. É o caso da Ford, DaimlerChrysler e Scania. A Volkswagen ainda não definiu sua programação. No entanto, em Camaçari, a filial da Ford não vai parar. A produção da fábrica está a pleno vapor e o número de carros fabricados no ano já supera em 30,5% a produção no período de janeiro a outubro de 2004. Na fábrica da Fiat, em Betim, as férias coletivas vão ser de 10 dias. Usualmente, a montadora tem dois períodos de parada: em dezembro e em julho. "Este ano vai prevalecer o esquema normal", informou o diretor de relações industriais da Fiat, Osmani Teixeira de Abreu. Na Luíza Barcelos, fabricante mineira de calçados e bolsas, a exportação - depois de representar 12% das vendas no ano passado - alcançará 5% do total este ano. A indústria manterá seu período normal de paralisação, entre Natal e Ano Novo. "Dar ou não férias coletivas depende muito da estratégia de cada empresa. Não há nenhum motivo para agir diferente do que em anos anteriores", diz o presidente da indústria mineira, Luiz Barcelos, que é também presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Minas Gerais.