Título: Assessor do ministro diz que 4 mil ligações foram 'pessoais'
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2005, Política, p. A9

Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor pessoal do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, prestou breve depoimento à CPI dos Bingos na manhã de ontem e repetiu a informação de que todas as ligações recebidas de Vladimir Poleto, Ralf Barquete e Rogério Buratti desde o início do governo Lula tinham conteúdo pessoal e nenhuma se relacionava ao ministro, para quem trabalha desde 1985. Entre janeiro de 2003 a agosto de 2005, foram quatro mil ligações entre os quatro ex-assessores de Palocci (exceto Barquete que faleceu em junho de 2004). A afirmação foi reiterada mesmo diante da constatação de que eles conversaram centenas de vezes nos dias cruciais do processo de prorrogação do contrato da GTech com a Caixa Econômica Federal. A comissão deverá convocar uma acareação entre os quatro e o ex-chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado. Os cinco são acusados de participar da negociação do contrato da GTech com a Caixa, na qual supostamente haveria cobrança de propinas. No dia 1º de abril de 2003, quando a assinatura da prorrogação do contrato foi adiada, há 31 ligações entre Poleto, Barquete, Buratti e Ademirson. A primeira chamada, de Barquete para Ademirson, foi feita às 9h49. A última conversa, entre Barquete e Buratti, foi registrada às 21h08. Uma semana depois, no dia 8, quando o acordo entre CEF e GTech foi selado, os quatro se comunicaram 36 vezes entre 9h48 e 23h25. Entre 1º de janeiro de 2003, quando Palocci assumiu a pasta, e 31 de março de 2004, quando da morte de Barquete, foram feitas 3.681 ligações entre os quatro, média de quase nove por dia. Nas duas datas mais importantes - 1º e 8 de abril de 2003 -, há seqüências de ligações quase sem intervalos entre um contato e outro envolvendo três dos quatro personagens sob investigação. No dia 1º, às 16h06, Barquete e Ademirson conversaram. Às 16h14, Barquete liga para Buratti. O contato é refeito às 16h23. Apenas 14 minutos depois, o mesmo Barquete fala com Ademirson. Ele repete a ligação às 16h48. Pouco depois, às 17h02, é Buratti quem procura Barquete, que retorna a ligação às 17h06. Em seguida, há quatro chamadas em seqüência - 17h13, 17h59, 18h24 e 19h44 - de Barquete para Ademirson. No dia 8, há dez ligações entre 9h48 e 12h17. Dessa vez, Poleto também participa dos contatos telefônicos. Mais tarde, às 15h41, começa nova seqüência de chamadas. São mais dez conversas até às 17h33. Nesse período crucial da assinatura do contrato da GTech com a Caixa, a média de ligações era de 17 por dia. Foram 262 chamadas entre 31 de março e 14 de abril de 2003. A função de Ademirson no ministério é organizar a agenda externa de Palocci e atender seus telefonemas mais importante. O celular com o qual diversos deputados, senadores, ministros e até o presidente Lula conversavam com o ministro ficava nas mãos de Ademirson. Ele disse, ainda, que nunca tinha ouvido falar da GTech até as denúncias serem publicadas na imprensa. Com relação a Buratti, Ademirson admite ter algum contato, mas sem a mesma proximidade da relação com Poleto e Barquette. As negativas de Ademirson irritaram o presidente da CPI, Efraim Moraes (PFL-PB), e o relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). "O depoimento não ajuda nem a CPI nem o ministro Palocci. Não é possível que se telefone tanto e não se fale nada. É muito difícil acreditar", afirmou Garibaldi.