Título: Lula deve esperar próxima reforma ministerial para tirar Lessa do BNDES
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Brasil, p. A2

Desgastado no cargo, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, deixará o governo na reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja promover no fim do ano ou após o carnaval. Lula decidiu demitir Lessa, mas não quer fazer a mudança de forma isolada, fora do contexto de uma reforma mais ampla de sua equipe, com vistas à segunda metade de seu mandato. "O presidente quer fazer tudo de uma vez só", revelou um assessor direto de Lula. Uma fonte do governo informou ontem que o presidente já teria, inclusive, comunicado sua decisão ao próprio Lessa, mas solicitou que ele permaneça no cargo até que seu substituto seja escolhido. Nos últimos dias, Lula ficou irritado com os ataques feitos pelo presidente do BNDES ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A maior dificuldade do presidente Lula em demitir Lessa, segundo um assessor, é sua amizade com o economista. Na reforma ministerial promovida em janeiro deste ano, a saída do presidente do BNDES foi cogitada várias vezes, mas acabou não acontecendo. Agora, Lula estaria resoluto. "Isso (a amizade) não vai impedir a saída de Lessa", comentou um assessor. O presidente nunca se importou com as críticas de Lessa à política econômica. Na sua avaliação, o presidente do BNDES estimulava o debate interno com suas posições, fazendo um contraponto crítico às políticas monetária e fiscal. O problema agora, disse um colaborador de Lula, é a maneira como o economista vem criticando a área econômica. "Não está pesando na decisão de Lula o debate (sobre a política econômica), mas a forma como as críticas vinham sendo feitas", observou um assessor do Palácio do Planalto. "Quando ataca a política monetária do Banco Central, Lessa está atacando, na verdade, a política econômica de Lula", comentou uma fonte. Em entrevista ao Valor, publicada na edição de ontem, Lessa disse que o presidente do BC "empurra" a taxa de juros para cima com o objetivo de estabilizar os índices de preços, mas "a inflação continua". O presidente do BNDES afirmou ainda que Meirelles decidiu "destruir" o BNDES ao dizer que o spread bancário é alto no país, entre outras razões, por causa da existência de "crédito direcionado" - o BNDES, por exemplo, tem como uma de suas fontes de recursos o dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que por sua vez é constituído com a arrecadação do PIS/PASEP.