Título: Cristovam ataca posição de Lula sobre o Fundeb
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2006, Política, p. A5

O senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF) atacou duramente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por declarações prestadas nesta semana, nas quais louva o Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e culpa preventivamente o Congresso na hipótese de o projeto não ser votado ou aprovado. Segundo o ex-ministro, Lula diz "inverdades" com o objetivo de "enganar a população" porque o "interesse do presidente não está na próxima geração que ele deveria educar, mas na próxima eleição que ele quer ganhar". A principal manifestação de Lula sobre o Fundeb ocorreu segunda-feira, no programa semanal de rádio "Café com o presidente". Cristovam rebateu as afirmações do presidente com um depoimento na qualidade de ex-ministro da Educação. Ele assegura que Lula cometeu pelo menos "quatro verdades incompletas que podem se caracterizar em inverdades". A primeira delas, ao dizer que se houver adiamento da votação do Fundeb no Congresso a culpa será dos parlamentares. "Verdade incompleta", de acordo com o ex-ministro, porque Lula omitiu o próprio papel na demora do envio do projeto ao Legislativo. "Ele não disse que o projeto do Fundeb foi entregue pelo Ministério da Educação (MEC) no Palácio do Planalto, no dia 15 de dezembro de 2003", disse. "Foi o presidente quem esperou quase dois anos, engavetando um projeto tão importante. Agora, quer que o Congresso aprove sem discutir, sem melhorar, em poucos meses, aquilo que esperou três anos de governo para enviar". Cristovam questiona os números apresentados por Lula, segundo os quais o Fundeb destinará mais R$ 4 bilhões para a educação básica. "É a segunda verdade incompleta", segundo Cristovam, porque o presidente omite a informação de que "isto só ocorrerá no ano 2010 ou 2011". Lula também não disse, argumenta o senador, "que, para 2006, o Fundeb que ele mandou para o Congresso aplicará apenas R$ 1,3 bilhão". Na prática, pelos cálculos de Cristovam, essa quantia corresponderá "a R$ 0,15 por dia de aula por aluno; ou R$ 50 por mês para cada professor, se todo o dinheiro fosse para melhorar a remuneração dos docente". A "terceira verdade incompleta é que ele não disse que o projeto apresentado em 2003 a ele, entregue pronto há dois anos, previa recursos no valor de R$ 4,3 bilhões, quatro vezes mais do que aquele que ele apresentou", disse. Por fim, a "quarta verdade não dita" seria que os R$ 1,3 bilhão "que ele se vangloria de levar para a educação básica" equivaleria a um acréscimo de apenas 2,6% dos gastos atuais com educação básica feita no Brasil, em torno a R$ 50 bilhões. "De muito pouco vai adiantar, se não vier acompanhado de programas como a Escola Ideal, a Certificação Federal do Professor, iniciados em 2003 por mim no MEC e suspensos pelo governo Lula em 2004". Cristovam deixou o Ministério da Educação em julho de 2005, demitido por telefone. Decepcionado com o PT, filiou-se ao PDT e é pré-candidato à vaga de Lula. As quatro inverdades, segundo Cristovam, são "mais um gesto de marketing político (...), usando as crianças do país para enganar os pais e a opinião pública".