Título: Delcídio nega acordo e diz que relatório da CPI dos Correios incluirá PSDB
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2006, Política, p. A5

A "ala moderada" da CPI Mista dos Correios já articula negociações com dirigentes petistas e tucanos na tentativa de construir um relatório final que possa ser digerido pelos dois partidos. Parlamentares avaliam que a produção de votos em separado vai desqualificar investigações sérias conduzidas pela comissão ao longo de quase seis meses e colocar em xeque a credibilidade da CPI. A intenção desses moderados é aprovar o relatório final em fevereiro, e deixar inconclusa apenas a investigação sobre os fundos de pensão, cujo relatório setorial seria finalizado em abril. Os fatos não provados e não investigados não devem ser mencionados no relatório final. Sobre o mensalão, os integrantes da CPI estão convictos que é preciso detalhar o esquema no relatório. Os saques de parlamentares nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza existiram e não podem ser contestados, alegam. Há coincidências entre as datas dos saques e votações importantes para o governo no Congresso. "Essa cronologia tem que constar no relatório final, mostrando a coincidência de datas. Quem julgará a relação entre as duas coisas será o Ministério Público, e ninguém mais", afirmou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MT). As especulações sobre tratativas do PT e aliados do governo para derrotar o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), retirando dele qualquer menção mais contundente ao mensalão, foi rechaçada por Delcídio. "Não há nenhuma operação de acordo em curso. A única coisa é que o relatório final vai acrescentar coisas que o parcial não detalhou, como o caso de Minas Gerais. É inadmissível que o relatório final não cite o esquema do PSDB em Minas", disse o petista ao Valor. Incomodado com a sombra permanente de um "acordão", Serraglio afirma que os relatórios parciais produzidos até agora são uma compilação de tudo o que a sociedade já conhece. O relator afirma ainda que a CPI tenta construir o texto final com auxílio de todos os partidos. Ele não considera possível o PT conseguir votos suficientes para derrotar o relatório final. Para que o PT aceite o relatório de Serraglio seriam incluídos no texto final detalhes da conexão tucana em Minas Gerais com Marcos Valério. Uma das idéias é mencionar, por exemplo, todos os políticos que foram beneficiados com o esquema que passou pelo governo do PSDB em Minas, na época comandado por Eduardo Azeredo, relatar os empréstimos - que também envolveram o Banco Rural, como no caso do PT -, enumerar os avalistas, as condições e os indícios de caixa 2. O PT também agradeceria se o relatório final fosse genérico sobre o caixa 2 nas campanhas estaduais. Haverá um capítulo especial dedicado ao publicitário Duda Mendonça, que admitiu ter recebido recursos do PT inclusive no exterior, mas como a CPI não investigou as campanhas estaduais a hipótese mais provável é que as citações não sejam minuciosas. Na outra ponta, para convencer os tucanos a votar o relatório final será necessário não poupar o PT. Todos os parlamentares que fizeram saques nas contas de Valério serão citados, todas as suspeitas de superfaturamento, improbidade administrativa, indícios de envolvimento de estatais num esquema de corrupção serão mencionados. Fica poupado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o caso da Visanet, que é o calo do PT, já há até um eufemismo negociado que poderá aparecer como solução. "A Visanet de fato não é uma empresa pública, então não se pode afirmar que dinheiro público foi desviado no esquema Marcos Valério. No entanto, havia dinheiro público na Visanet, do Banco do Brasil. Sendo assim, qualquer lesão ao patrimônio da Visanet reflete uma lesão indireta ao patrimônio público", explicou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), sub-relator de contratos da CPI. Cardozo considera primordial votar o relatório final até fevereiro. "Quanto mais o tempo passa, maior a possibilidade de confusão (entre os partidos). Se não fizermos uma assepsia do vírus eleitoral, essa CPI não acabará bem. Temos que defender um relatório único", afirmou o petista.